Pregações bizarras: a traumatizante mensagem "Traumas de um esquecido" de Adeildo Costa (Parte Final)
Complementando a postagem anterior, vamos finalizar a análise da mensagem "Traumas de um esquecido", de Adeildo Costa. Mesmo diante de um início ruim, eu ainda tinha esperança de que o pregador iria se recuperar no decurso da mensagem. Mas em pouco tempo o meu otimismo transformou-se em espanto diante da estratégia do orador de exarcebar o drama dos personagens históricos, através da revelação de "fatos" que a Bíblia ou a História jamais insinuou.
O suborno da mulher do fluxo de sangue
Sobre a cura da mulher que padecia de um fluxo de sangue (Marcos 5:25-34), o pregador afirmou que a mesma tinha de pagar um suborno a Caifás para que não fosse isolada por causa de sua impureza ritual. Adeildo diz que, tão logo terminou o dinheiro, o líder religioso passou a persegui-la. Ora o texto deixa bem claro que ela tinha dispendido suas economias com os médicos. Por que incluir um crime de extorsão na história? Fica mais emocionante, né?
A maldição dos deficientes físicos
Mas o meu espírito ficou tremendamente consternado quando o paralítico do Tanque de Betesda veio à tona, o caso emblemático de um homem esquecido por todos em sua miséria.
Conforme falei na postagem anterior, Adeildo diz que o Tanque de Betesda era um subterfúgio(?) de Deus, uma porta secundária para aqueles que nasciam com alguma deficiência física. O pregador então passa a descrever as "brechas da lei" relativas à questão da deficiência física. Ei-las:
Primeira brecha: "Se filho nascesse deficiente, a mãe poderia amamentá-lo até os 6 anos de idade. Após esse período, deveria levá-lo ao Tanque de Betesda e o abandoná-lo lá para sempre."
Segunda brecha: "Famílias com crianças deficientes só podiam ser visitadas por parentes na quinta-feira."
Terceira brecha: "Crianças enfermas eram consideradas "anátema". Nesse caso a criança não tinha direito de receber o nome dos pais, ou seja, ficava sem nome."
Quarta brecha: "Uma vez abandonada no tanque, a criança só podia ser alimentada por viúvas."
O orador vai mais longe na dramatização e diz ( inspirado não sei em qual literatura ) que com quatro anos de idade, os pais da criança já começavam a dizer "não vejo a hora de tirar essa aberração de dentro de casa". Acrescentou também que caso a criança perguntasse alguma coisa o pai deveria dizer-lhe: "conjuro-te anátema". Segundo Adeildo, os pais da criança deficiente também costumavam dizer: "estou contando os dias para arrancar essa maldição de dentro de casa" ou "você é uma pedra de tropeço na minha família", e também: "meus parentes deixaram de me visitar porque você é uma aberração."
Em resumo, segundo Adeildo o paralítico do Tanque de Betesda estava lá desde os seis anos de idade por causa de sua deficiência. Tinha sido abandonado naquele lugar por causa da sua condição de maldito.
É cristalina aqui a ignorância bíblica e extra-bíblica do pregador quanto ao tratamento que era dado aos deficientes, principalmente na economia veterotestamentária.
É cristalina aqui a ignorância bíblica e extra-bíblica do pregador quanto ao tratamento que era dado aos deficientes, principalmente na economia veterotestamentária.
Refutação da tese Adeildeana
A literatura talmúdica e bíblica proibiu aos judeus amaldiçoar os parentes e deficientes. Vejamos o trecho da Enciclopédia Judaica, Volume 4, página 752, que tenho aqui na minha estante:
A literatura talmúdica e bíblica proibiu aos judeus amaldiçoar os parentes e deficientes. Vejamos o trecho da Enciclopédia Judaica, Volume 4, página 752, que tenho aqui na minha estante:
Maldição
De acordo com o Talmud, mesmo uma maldição não merecida tem eficácia, e a maldição desnecessária cairá sobre aquele que a pronunciou. As proibições bíblicas de amaldiçoar elaboradas na "halakah" englobavam 1) a maldição contra Deus; 2) a maldição de parentes (Ex 21:17; Lev. 20:9; Sanh 7:8). As proibições se aplicam aos prosélitos contra seus parentes não-convertidos, (Maim. Yad; Mamrim 5:11). 3) A maldição contra juízes e chefes do povo; 4) A proibição bíblica de amaldiçoar o surdo (Lev. 19:14) foi interpretada para incluir o pobre ou qualquer aleijado ou mutilado.
Ora, uma mãe que amaldiçoasse ou desprezasse um filho deficiente estararia cometendo dois pecados simultaneamente: o de amaldiçoar um deficiente e o de amaldiçoar um parente. Então, todas essas palavras que Adeildo colocou na boca dessa mãe fictícia, com certeza não seriam proferidas por um mãe decente que respeitasse a Lei e as tradições rabínicas. Parece que ele tenta transportar para a cultura judaica o costume espartano de matar crianças que nascessem com deficiências (Ver o filme 300).
Vale a pena reproduzir Levítico 19:14 aqui: "Não amaldiçoarás ao surdo, nem porás tropeço diante do cego; mas temerás o teu Deus. Eu sou o SENHOR.
E outra vez em Levitico 21:18-23:
Pois nenhum homem em quem houver alguma deformidade se chegará; como homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos, Ou homem que tiver quebrado o pé, ou a mão quebrada,Ou corcunda, ou anão, ou que tiver defeito no olho, ou sarna, ou impigem, ou que tiver testículo mutilado.Nenhum homem da descendência de Arão, o sacerdote, em quem houver alguma deformidade, se chegará para oferecer as ofertas queimadas do SENHOR; defeito nele há; não se chegará para oferecer o pão do seu Deus. Ele comerá do pão do seu Deus, tanto do santíssimo como do santo. Porém até ao véu não entrará, nem se chegará ao altar, porquanto defeito há nele, para que não profane os meus santuários; porque eu sou o SENHOR que os santifico -
Observem que, de acordo com o trecho acima, os deficientes só não podiam ser sacerdotes, mas podiam auxiliar no serviço do santuário de tal forma que podiam "comer do pão de seu Deus, tanto do santíssimo como do santo".
Conforme se percebe, a Lei de Moisés acolhia bem os deficientes, mas o pregador dos Gideões quis transformá-los em malditos, anátemas, pedras de tropeço. Meus Deus! Quanto besteirol!
Com certeza essa estória de que a mãe abandonava o filho no Tanque de Betesda ao seis anos também não tem amparo bíblico nem histórico. Certamente tal mãe desnaturada seria responsabilizada por esse crime.
Na verdade, toda essa estória do Tanque de Betesda faz parte de uma estratégia de entreter o povo com contos inventados, um modo de conferir maior intensidade à dramaticidade do espetáculo teatral. E o povo adora!
Na verdade, toda essa estória do Tanque de Betesda faz parte de uma estratégia de entreter o povo com contos inventados, um modo de conferir maior intensidade à dramaticidade do espetáculo teatral. E o povo adora!
Termino minha análise aqui. Amém.
Excelente abordagem Cristiano.
Precisamos de pessoas como você, labutando pela fé que uma vez nos foi dada.
Deus te abençoe...
www.michelineblogs.blogspot.com
Muitos pregadores (pregadores?)gostam de pregar para impressionar e não para expressar. eles gostam de fantasiar suas (suas mesmo)mensagens com "riqueza" de detalhes desnecessários que em nada acrescenta na edificação espiritual de quem os ouvem. É raro vê-los pregar um sermão expositivo, fazendo uma honesta interpretação do texto. Certa feita tiver o desprazer de ouvir um pregador pregar em Atos 27: 29 onde o mesmo baseou sua mensagem nas "quatro âncoras" lançadas pelos companheiros de viagem de Paulo. O pregador fez das quatro âncoras, quatro tópicos para sua mensagem. Foi mais ou menos assim:
1ªâncora - o amor
2ªâncora - a oração
3ªâncora - a fé
4ªâncora - a esperança
É muita fantasia e falta de respeito para com o texto Bíblico. Mas o pior é que o povão gosta desse tipo de coisa.
Pb. Edinei, Th.b
Edinei
Essa alegorização ridícula da Bíblia é o famoso recurso de "encher linguiça", utilizado pelos incapazes.
Abraços
Olá irmão Cristiano.
Deus te bendiga por abordar tal assunto. Que coragem e segurança!
Muitos ouvintes ficam pasmos por nunca terem ouvido falar em tais "maravilhas" do conhecimento! Mas nunca ouviram porque tais "maravilhas" simplesmente não existem!
Continue nessa força meu querido. Seus artigos sempre são fonte de iluminação para os leitores.
Pr. Cleilson
www.teolatria.blogspot.com
Irmão, qual o motivo do meu comentário não ter sido publicado?
att, Pr Marcello
Irmão Marcelo
O seu comentário está na PARTE 1 do meu comentário sobre a pregação do Adeildo.
Você deve ter procurar o comentário na PARTE 2 e não achou, mas, repito, está na PARTE 1.
Veja em
http://cristisantana.blogspot.com/2011/12/pregacoes-bizarras-traumatizante.html#comment-form
Te respondi no mesmo dia.
Um grande abraço
as pessoas estão deixando de ler a biblia e se tornando legisladores, o texto de leviticos se refere ao serviço sacerdotal e só a isso ,
Amem. Gostei da explicacao! Agora como aplicar isso para os nosso dias: a saber o que lemos em Leviticos: 21...
Ah esse "besteirol" que se propaga na Igreja Brasileira😡 O meu consolo é saber que Deus vai tratar com esses HEREGES 1 por 1😝