Por Cristiano Santana
Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Jeremias 17:9
Introdução
Essa passagem de Jeremias nos impacta pela precisão com que retrata, em poucas palavras, o caráter insidioso, pérfido do coração. Ele é enganoso, buscando sempre se aproveitar de toda circunstância favorável para gratificar as suas propensões orgulhosas e malignas. Ele é desesperadamente corrupto, ou seja, sempre ávido por envolver-se nas tramas do pecado.
Diante do caráter traiçoeiro do coração, o profeta questiona: "quem o conhecerá?". O coração humano esconde-se de si mesmo, de tal forma que nem seu possuidor é capaz de conhecê-lo. O indivíduo na maioria da vezes só conhece o que está dentro si quando o mal escondido se manifesta.
O coração enganoso é o pior inimigo do homem caído, isto por causa da sua capacidade de gerar o que se chama de autoilusão. A pessoa é incapaz de apreender a correta imagem de si mesma. As pessoas costumam se queixar bastante de que foram enganadas por outros, mas é impressionante a quantidade de pessoas que vivem num mundo de mentira, seja através da construção artificial de uma autoimagem, seja através da ocultação de seus defeitos. O nome disso é autoilusão, e suas principais formas são:
Formas de auto-ilusão
Hipocrisia interior
É a recusa intencional de admitir, face a si mesmo, suas más ações e suas faltas de caráter, o que tem por efeito corromper a consciência. Aqueles que enganam a si mesmos interpretam suas condutas sob um ângulo que lhes é vantajoso (em relação a si mesmos e aos outros). Nas questões melhor definidas, eles encontram a desculpa generosa de não serem piores do que qualquer outro. Biblicamente, os fariseus da época de Jesus são os maiores exemplos de hipocrisia interior. Por causa disso não foram poupados das duras palavras do Mestre que apropriadamente os comparava a sepulcros caiados, de boa aparência por fora, mas podres por dentro.
Dupla vontade
De acordo com Kierkegaard, consiste em apelar para o raciocínio para disfarçar e justificar uma fraqueza de vontade, quando não se cumpre as obrigações morais. Tais pessoas vivem "em cima de muro" e temem a incerteza e o risco implicados na busca de sua visão pessoal e de suas necessidades espirituais, preferindo o conforto da conformidade social e da religião convencional.
Outra vez nos deparamos com multidões de pessoas nas empresas, igrejas, etc, totalmente desprovidas de autonomia. Por um lado elas sentem insatisfação diante de uma série de irregularidades, do outro, medo de manifestar a sua discordância. Isso nos faz lembrar da dura repreensão de Elias ao povo de Israel:
Então Elias se chegou a todo o povo, e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o. Porém o povo nada lhe respondeu. (I Re 18:21)
Ressentimento
É o ódio, a inveja e a cólera reprimidos, mas latentes sob as cinzas, que recusamos admitir e exprimir diretamente. Disso resulta uma distorção sistemática dos valores. Vive-se como se estivesse tudo bem, na mais perfeita ordem quando, de repente, desencadeia-se um momento de fúria. Todo aquele ressentimento contido é extravasado, quase sempre de forma violenta.
Inautenticidade
No sentido de Martin Heidegger, consiste em fugir da individualidade, recusando defrontar-se plenamente com o caráter transitório de nossa vida. Mas a inautenticidade é, sobretudo, fugir da morte, em particular do sentido da morte, na medida em que esta evidencia os limites que se impõem a nós.
Esta sociedade materialista tentar nos iludir, fazendo-nos pensar que a morte não é uma possibilidade, que todos somos super-humanos. É como se não fôssemos envelhecer ou morrer. Essa cultura da imortalidade se intensificou graças ao últimos avanços científicos, principalmente na área da biologia. O código do DNA, responsável pelo mecanismo da velhice, é caçado implacavelmente como o santo graal da ciência. Estão procurando essa chave genética para desligá-la e assim garantir a tão cobiçada imortalidade.
É necessário que os cristãos abominem essa vida inautêntica. Os filhos de Deus devem se lembrar de que "a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo" (Fil 3:20); de que a morte é apenas uma passagem para a vida eterna. É decepcionante saber que existem inúmeros cristãos que têm medo da morte.
Defesa psicológica
É a proteção do espírito-que-se-opõe (do ego) contra os instintos produtores de angústia, os aspectos tirânicos da consciência (superego) e as ameaças do meio ambiente. Essa defesa se manifesta através de vários mecanismos, dos quais o mais elementar é a "repressão" - a censura de idéias e das emoções antes que elas atinjam plenamente a consciência. Ela se manifesta, por exemplo, na resistência que um indivíduo opõe às sondagens de outra pessoa (terapeuta, pastor, etc).
O indivíduo também pode fazer uso de outras formas de defesa psicológica, tais como a racionalização e a negação, tudo com o intuito de reduzir qualquer manifestação que possa colocar em perigo a integridade do ego, onde o indivíduo não consiga lidar com situações que por algum motivo considere ameaçadoras. É o medo de encarar a realidade de frente.
Conclusão
Como sobreviver então a esse inimigo, o coração, que simbolicamente representa todo um complexo de vontade e afetividade? Não há como discordar que a Palavra de Deus é um espelho que revela a nossa verdadeira condição diante de Deus. Quando o homem tem um encontro com Deus, inicia-se um processo no qual se obtém, gradativamente, um conhecimento cada vez mais perfeito de Deus e de si mesmo. Somente através do Evangelho é possível atingir o ideal de Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo". Só o evangelho pode tirar a escama de nossos olhos para que possamos ver quem realmente somos. Uma autoavaliação diária é garantida a todos aqueles que se comprometerem a ter uma vida de íntima comunhão com o Senhor Jesus Cristo. Somente o colírio de Deus pode curar o homem da autoilusão.
Bibliografia:
Canto-Sperber, Monique - Dicionário de Ética e Filosofia Moral, Editora Unisinos
Heidegger, Martin - Ser e Tempo
Haight, M. R., A study of Self-Deception, Londres, Humanities Press
Wikipedia
Bibliografia:
Canto-Sperber, Monique - Dicionário de Ética e Filosofia Moral, Editora Unisinos
Heidegger, Martin - Ser e Tempo
Haight, M. R., A study of Self-Deception, Londres, Humanities Press
Wikipedia
Ótimo post Cristiano,em PV 4:23 diz que "Sobre tudo o que se deve guardar; guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida", ou seja,o coração é o centro do intelecto e das vontades humanas,um coração entregue à prática do pecado corre o grave risco de tornar-se endurecido,já o coração regenerado arrepende-se e confessa que Jesus é o Senhor ,desta forma nasce de novo e tem o coração mudado,conforme o texto de Ezequiel 36:26 "e dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo, e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne"...
Prezado Cristiano.
Ótima postagem.
Estou feliz com a sua volta à Blogosfera Evangélica. A sua contribuição, com conteúdo dessa qualidade, é relevante demais.
Boas Festas e Bom Ano Novo.
E.A.G.
http://belverede.blogosfera.com/
Rosimary e Eliseu
Muito obrigado pelo incentivo. Estive parado por bastante tempo, mas creio que agora poderei dar continuidade ao meu trabalho.
Eliseu, voltei a postar também na UBE.
Um grande abraço