Prestação de contas e submissão mútuas não constituem opção aos ministros, são necessidade. Paulo escreveu aos efésios sobre a vida cheia do Espírito, a qual inclui "falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração, dando sempre graças por tudo" e, finalmente, "sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus" (Ef 5.19-21). O preponderante princípio da prestação de contas e submissão mútuas governa todos os relacionamentos cristãos, como Paulo ilustrou ao tratar de relacionamentos fundamentais no antigo mundo mediterrâneo: maridos e esposas, filhos e pais, senhores e escravos.
Submissão envolve respeito e consideração (Ef 6.1-4). Implica em dar preferência uns aos outros e está baseada no amor (Ef 5.25-33). Inclui reconhecer e render-se à autoridade (Ef 5.22; 6.1,5). Submissão requer obrigações àqueles em autoridade como também aos que estão sob autoridade. O marido deve amar sua esposa "como também Cristo amou a igreja"; na verdade, até ao ponto em que o marido ama o próprio corpo (Ef 5.25,28). Os pais não devem provocar a ira aos filhos, mas criá-los na doutrina e admoestação do Senhor (Ef 6.4). Os mestres devem renunciar a intimidação (Ef 6.9). Evidentemente, submissão implica em obrigações recíprocas. O entendimento de Paulo sobre submissão compara e proporciona fundamento bíblico para o moderno conceito da prestação de contas.
O princípio da prestação de contas e, submissão mútuas, que Paulo disse que deveria caracterizar a antiga família e domésticos, foi aplicado por Pedro à família da fé (1 Pe 5.1-5). A própria palavra "família" implicava autoridade e chefia ao povo que morava no mundo mediterrâneo. Outras metáforas como "pastor", "pai", "ancião" e "bispo" também implicam que os crentes devem prestar contas.
As pessoas do mundo moderno têm uma imagem essencialmente negativa da prestação de contas. Do Iluminismo em diante, o ideal na sociedade ocidental tem sido o indivíduo autônomo, que não se curva a rei ou bispo. O conceito bíblico da prestação de contas é alienígena à nossa compreensão do que significa ser humano. Toda a idéia da auto-atualização jaz no erguer-se acima dos constrangimentos da família e da sociedade.
Fundamentos Escriturísticos e Teológicos
A prestação de contas está fundamentada na própria estrutura da criação. Gênesis 2.15 declara: "Tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar". Deus colocou os seres humanos na terra para cultivar e gerenciar a criação. Não somos donos, mas administradores. Isso implica em prestação de contas, como Paulo falou aos coríntios: "Requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel" (1 Co 4.2).
Por sua própria natureza, nossa humanidade requer prestação de contas. Não somos deuses; somos seres criados. Quando Deus colocou os primeiros humanos na criação, instalou o princípio da prestação de contas para a saúde e felicidade deles. Estamos em nosso ponto mais produtivo, quando atuamos em relacionamentos de prestação de contas positiva.
A Queda adveio quando o primeiro homem e a primeira mulher violaram a prestação de contas. Enquanto Adão e Eva viviam num relacionamento em que prestavam contas, tinham tudo o que precisaram. Quando violaram a prestação de contas, foi rompido o relacionamento deles com Deus, entre si e com a ordem criada. A atividade redentora de Deus não apenas trata dos nossos pecados, mas também nos traz de volta a um relacionamento saudável com Ele. Isso inclui reconhecer sua majestade e aprender a prestar contas a Ele.
Como seres humanos nunca escapamos da prestação de contas. Precisamos prestar contas porque somos seres caídos e, como seres sociais, nosso estado decaído abala os outros como também a nós mesmos. O cristianismo ocidental dá muito pouca consideração ao impacto da Queda sobre a natureza humana. Mesmo depois que recebemos a graça de Deus na conversão e nos tornamos novas criaturas, muita coisa precisa ser renovada. A presença do pecado distorce nossa percepção, nossa paixão e nossas respostas. Somos os produtos de hereditariedades e ambiente maus. A prestação de contas é crucial, porque não estamos com a razão o tempo todo: somos propensos à inveja, dissensão, ciúme, ira, orgulho, cobiça? pecados da carne, o abuso do poder e egoísmo — o que Paulo chamou "as obras da carne [da natureza pecaminosa]" (Gl 5.19). Então, a prestação de contas não é algo negativo; é uma expressão da graça de Deus em nossas vidas para salvar-nos de nós mesmos. Também serve para levar-nos à maturidade. Isso pode ser visto no relacionamento entre filhos e pais. A prestação de contas para a criança não é punitiva, mas formativa. Na melhor das hipóteses é espiritual, emocional e social, e ajuda a cultivar habilidades, atitudes e comportamentos que auxiliam a criança a atingir seu potencial.
Essa dimensão da prestação de contas está evidente em Gênesis 1 (cf. Gênesis 1.29,30). Pode ser percebida na chamada de Cristo ao discipulado, quando disse: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo [o jugo do discipulado], e aprendei de mim. [...] Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve" (Mt 11.28-30).
O propósito de Jesus ao chamar os Doze a um relacionamento de prestação de contas denominado discipulado não era para limitar, dominar ou restringi-los, mas instruí-los nos princípios do Reino e levá-los ao potencial de cada um no ministério. Como discípulos, os Doze abriram mão de várias prerrogativas. Renunciaram o controle pessoal. Iam aonde Jesus ia e quando Jesus ia. Toda a atividade, durante aqueles três anos, estava sob a supervisão dEle. Certamente que experimentaram maior liberdade e responsabilidade com o passar do tempo, mas nunca fora de um relacionamento de prestação de contas. Somente depois de pelo menos três anos de estreito ministério supervisionado, foi que os discípulos estavam preparados para a missão a que o Senhor os tinha chamado.
A prestação de contas dos discípulos não terminou com a ascensão. Depois do Dia de Pentecostes, os cristãos prestavam contas à comunidade dos crentes. Nada menos que a figura de Pedro foi chamada para prestar contas por levar o Evangelho aos gentios, embora fosse o Espírito Santo quem dirigia as ações dele (At 11.1-18). O apóstolo Paulo, a despeito de seu encontro dramático com Cristo na estrada de Damasco, sentiu a necessidade de ir a Jerusalém para juntar-se aos discípulos (At 9.26). A compreensão de Paulo sobre prestação de contas compeliu-o a confrontar o preeminente líder da Igreja, quando Paulo percebeu que ele se comportava de maneira contrária ao Evangelho (Gl 2.11-14). Mais tarde, Paulo e Barnabé reuniram-se com os anciãos da igreja em Jerusalém para solucionar uma controvérsia concernente ao status dos gentios convertidos nas comunidades cristãs que, em grande parte, eram judias (At 15.1-32).
Lições da História
A história dos grandes evangelizadores não é um registro de individualistas que não se prendiam a regras organizacionais, mas de indivíduos resolutos que atuavam em relacionamentos de prestação de contas. Os líderes do avivamento evangélico do século XVIII na Inglaterra, John Wesley e George Whitefield, nunca deixaram a Igreja Anglicana, apesar das divergências que, às vezes, tinham com os superiores eclesiásticos. O metodismo, sob a liderança de Wesley, era um sistema de prestação de contas que objetivava evangelizar e discipular. Permaneceu assim quando foi exportado para outros países.
Há um estereótipo popular acerca dos cavaleiros itinerantes de fronteira, como sendo evangelistas impetuosamente independentes que viajavam a cavalo. Mas os cavaleiros itinerantes metodistas, sob a liderança de um discípulo de Wesley, Francis Asbury, eram mais um movimento paramilitar do que uma associação autônoma. Os evangelistas iam aonde Asbury os direcionava e regularmente reportavam-se a ele. Eram demitidos se viessem a se mostrar ineficazes ou violassem as regras do grupo. Inquestionavelmente, o evangelismo da fronteira americana entre 1800 e 1860 é uma história metodista, e não teria acontecido sem a estratégia e estrutura desenvolvida por Asbury. Os cavaleiros itinerantes eram indivíduos decididos, mas não deixavam de prestar contas. Os valores positivos da prestação de contas podem ser denotados ao longo da história da Igreja. Por mais de vinte séculos, não há um único exemplo em qualquer lugar de um sistemático movimento missionário ou de renovação sem as estruturas próprias da prestação de contas.
Aplicação Contemporânea
Uma coisa é afirmar a prioridade da prestação de contas; outra totalmente diferente é pô-la em prática na vida da igreja. Os pentecostais e carismáticos debatem-se com o conceito da prestação de contas. Muitos de nossos heróis são lembrados como individualistas inflexíveis que desdenhavam as "instituições feitas pelos homens". A ênfase pentecostal na experiência pessoal é parte do problema. Os pentecostais acreditam que Deus ainda fala e faz tudo o que sempre falou e fez. Por conseguinte, quando alguém afirma ter tido uma experiência que vai de encontro à comunidade (ou seja, igreja ou denominação), é quase impossível ter sucesso na argumentação contra tal afirmativa.
Quando examinamos as Escrituras, a História e a experiência prática, verificamos que todo mundo precisa prestar contas a alguém. É nesse ponto que a denominação, como associação voluntária, é importante ao ministro. Ela prove uma estrutura para o ministro viver em relacionamentos de prestação de contas aos colegas de ministério. Unimo-nos uns aos outros para cooperar na missão, apoiar uns aos outros, incentivar uns aos outros e proteger uns aos outros com amor.
Os ministros, como profissionais, precisam desesperadamente de tal estrutura. Os ministros têm menos supervisão direta do que quase todos os outros grupos de profissionais. Gozam de considerável liberdade na execução de suas responsabilidades e têm intervalos de tempo que, se não forem cuidadosamente administrados, podem levá-los a padrões de comportamento danosos a eles, suas famílias e igreja a que servem. Tais padrões podem conduzir o ministro a pecados crassos ou impedi-lo de obter determinado nível de progresso. A denominação prove uma rede de segurança, porque cria possibilidades para relacionamentos de prestação de contas com colegas. Nas Assembléias de Deus, as estruturas de prestação de contas operam no âmbito local pelas convenções estaduais, e no âmbito nacional, pela Convenção Geral. Essas estruturas referem-se a assuntos pessoais e de desempenho.
O ministro, com certeza, renuncia certo patamar de independência para fazer parte de uma organização maior. O ministro de qualquer denominação não pode vivenciar o ideal autônomo da cultura ocidental. Não obstante, a prestação de contas possibilita um estilo de vida cristão mais autêntico, baseado no amor, e não na defesa dos próprios direitos e no interesse pessoal.
Parte da prestação de contas do ministro, assim como de todo membro do Corpo de Cristo, é reconhecer o papel dado por Deus àqueles em posição de autoridade: guiar, guardar, apascentar, alimentar e disciplinar. O escritor da carta aos Hebreus declarou que os crentes devem imitar a fé dos líderes (Hb 13.7). Obviamente, o ministro deve seguir a liderança e entusiasticamente participar na vida da comunidade em geral.
Há, porém, uma diferença entre prestação de contas e a subserviência. A prestação de contas que o ministro deve à denominação é limitada, porque Jesus é o Rei e todas as estruturas humanas estão sujeitas a enganos e erros. Neste ponto, todos os reformadores do século XVI estavam de acordo. Os líderes denominacionais estão sujeitos às Escrituras, constituição e estatutos de sua denominação em particular e, nas Assembléias de Deus, à Convenção Geral em sessão. Cristo é o Cabeça, e os líderes eleitos exercitam a autoridade do Senhor dentro da carta regia de sua Palavra. A autoridade espiritual dos líderes é derivada de sua sensibilidade e obediência a essa Palavra.
A história da Igreja mostra que nem sempre as organizações eclesiásticas estão certas; na verdade, às vezes estão espetacularmente erradas. Alguém imediatamente lembra-se da comissão que negou a designação de William Carey para a índia, depois que um de seus membros ter dito: "Jovem, se Deus pretendesse salvar os pagãos, Ele não teria tomado certas medidas para Ele mesmo efetuá-lo?"
Conclusão
A prestação de contas é um importante meio para canalizar nossas forças e recursos como líderes. É absolutamente essencial, se queremos evitar nos comportar de maneira destrutiva. O Tennessee era um dos rios mais destrutivos dos Estados Unidos. Suas freqüentes e extensas inundações causavam enormes perdas de pessoas e propriedades. Era um rio selvagem. No começo dos anos 30, o governo federal, sob a liderança de Franklin Delano Roosevelt, construiu uma série de represas no rio Tennessee e em alguns de seus principais tributários. O projeto deu fim às terríveis inundações e canalizou a energia do rio nas represas hidroelétricas. A força do rio foi aproveitada, trazendo eletricidade ao vale do Tennessee e impulsionando toda a região para o século XX. A força sempre esteve no rio, mas nunca havia sido utilizada para propósitos produtivos.
Quem pode dizer que nós, como o rio, não precisamos de estruturas para sermos aproveitáveis? Não se trata de perda de poder, mas de canalização de poder e energia para os propósitos redentores de Deus. É isso que a disciplina e a prestação de contas podem fazer em nossas vidas.
Submissão envolve respeito e consideração (Ef 6.1-4). Implica em dar preferência uns aos outros e está baseada no amor (Ef 5.25-33). Inclui reconhecer e render-se à autoridade (Ef 5.22; 6.1,5). Submissão requer obrigações àqueles em autoridade como também aos que estão sob autoridade. O marido deve amar sua esposa "como também Cristo amou a igreja"; na verdade, até ao ponto em que o marido ama o próprio corpo (Ef 5.25,28). Os pais não devem provocar a ira aos filhos, mas criá-los na doutrina e admoestação do Senhor (Ef 6.4). Os mestres devem renunciar a intimidação (Ef 6.9). Evidentemente, submissão implica em obrigações recíprocas. O entendimento de Paulo sobre submissão compara e proporciona fundamento bíblico para o moderno conceito da prestação de contas.
O princípio da prestação de contas e, submissão mútuas, que Paulo disse que deveria caracterizar a antiga família e domésticos, foi aplicado por Pedro à família da fé (1 Pe 5.1-5). A própria palavra "família" implicava autoridade e chefia ao povo que morava no mundo mediterrâneo. Outras metáforas como "pastor", "pai", "ancião" e "bispo" também implicam que os crentes devem prestar contas.
As pessoas do mundo moderno têm uma imagem essencialmente negativa da prestação de contas. Do Iluminismo em diante, o ideal na sociedade ocidental tem sido o indivíduo autônomo, que não se curva a rei ou bispo. O conceito bíblico da prestação de contas é alienígena à nossa compreensão do que significa ser humano. Toda a idéia da auto-atualização jaz no erguer-se acima dos constrangimentos da família e da sociedade.
Fundamentos Escriturísticos e Teológicos
A prestação de contas está fundamentada na própria estrutura da criação. Gênesis 2.15 declara: "Tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar". Deus colocou os seres humanos na terra para cultivar e gerenciar a criação. Não somos donos, mas administradores. Isso implica em prestação de contas, como Paulo falou aos coríntios: "Requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel" (1 Co 4.2).
Por sua própria natureza, nossa humanidade requer prestação de contas. Não somos deuses; somos seres criados. Quando Deus colocou os primeiros humanos na criação, instalou o princípio da prestação de contas para a saúde e felicidade deles. Estamos em nosso ponto mais produtivo, quando atuamos em relacionamentos de prestação de contas positiva.
A Queda adveio quando o primeiro homem e a primeira mulher violaram a prestação de contas. Enquanto Adão e Eva viviam num relacionamento em que prestavam contas, tinham tudo o que precisaram. Quando violaram a prestação de contas, foi rompido o relacionamento deles com Deus, entre si e com a ordem criada. A atividade redentora de Deus não apenas trata dos nossos pecados, mas também nos traz de volta a um relacionamento saudável com Ele. Isso inclui reconhecer sua majestade e aprender a prestar contas a Ele.
Como seres humanos nunca escapamos da prestação de contas. Precisamos prestar contas porque somos seres caídos e, como seres sociais, nosso estado decaído abala os outros como também a nós mesmos. O cristianismo ocidental dá muito pouca consideração ao impacto da Queda sobre a natureza humana. Mesmo depois que recebemos a graça de Deus na conversão e nos tornamos novas criaturas, muita coisa precisa ser renovada. A presença do pecado distorce nossa percepção, nossa paixão e nossas respostas. Somos os produtos de hereditariedades e ambiente maus. A prestação de contas é crucial, porque não estamos com a razão o tempo todo: somos propensos à inveja, dissensão, ciúme, ira, orgulho, cobiça? pecados da carne, o abuso do poder e egoísmo — o que Paulo chamou "as obras da carne [da natureza pecaminosa]" (Gl 5.19). Então, a prestação de contas não é algo negativo; é uma expressão da graça de Deus em nossas vidas para salvar-nos de nós mesmos. Também serve para levar-nos à maturidade. Isso pode ser visto no relacionamento entre filhos e pais. A prestação de contas para a criança não é punitiva, mas formativa. Na melhor das hipóteses é espiritual, emocional e social, e ajuda a cultivar habilidades, atitudes e comportamentos que auxiliam a criança a atingir seu potencial.
Essa dimensão da prestação de contas está evidente em Gênesis 1 (cf. Gênesis 1.29,30). Pode ser percebida na chamada de Cristo ao discipulado, quando disse: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo [o jugo do discipulado], e aprendei de mim. [...] Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve" (Mt 11.28-30).
O propósito de Jesus ao chamar os Doze a um relacionamento de prestação de contas denominado discipulado não era para limitar, dominar ou restringi-los, mas instruí-los nos princípios do Reino e levá-los ao potencial de cada um no ministério. Como discípulos, os Doze abriram mão de várias prerrogativas. Renunciaram o controle pessoal. Iam aonde Jesus ia e quando Jesus ia. Toda a atividade, durante aqueles três anos, estava sob a supervisão dEle. Certamente que experimentaram maior liberdade e responsabilidade com o passar do tempo, mas nunca fora de um relacionamento de prestação de contas. Somente depois de pelo menos três anos de estreito ministério supervisionado, foi que os discípulos estavam preparados para a missão a que o Senhor os tinha chamado.
A prestação de contas dos discípulos não terminou com a ascensão. Depois do Dia de Pentecostes, os cristãos prestavam contas à comunidade dos crentes. Nada menos que a figura de Pedro foi chamada para prestar contas por levar o Evangelho aos gentios, embora fosse o Espírito Santo quem dirigia as ações dele (At 11.1-18). O apóstolo Paulo, a despeito de seu encontro dramático com Cristo na estrada de Damasco, sentiu a necessidade de ir a Jerusalém para juntar-se aos discípulos (At 9.26). A compreensão de Paulo sobre prestação de contas compeliu-o a confrontar o preeminente líder da Igreja, quando Paulo percebeu que ele se comportava de maneira contrária ao Evangelho (Gl 2.11-14). Mais tarde, Paulo e Barnabé reuniram-se com os anciãos da igreja em Jerusalém para solucionar uma controvérsia concernente ao status dos gentios convertidos nas comunidades cristãs que, em grande parte, eram judias (At 15.1-32).
Lições da História
A história dos grandes evangelizadores não é um registro de individualistas que não se prendiam a regras organizacionais, mas de indivíduos resolutos que atuavam em relacionamentos de prestação de contas. Os líderes do avivamento evangélico do século XVIII na Inglaterra, John Wesley e George Whitefield, nunca deixaram a Igreja Anglicana, apesar das divergências que, às vezes, tinham com os superiores eclesiásticos. O metodismo, sob a liderança de Wesley, era um sistema de prestação de contas que objetivava evangelizar e discipular. Permaneceu assim quando foi exportado para outros países.
Há um estereótipo popular acerca dos cavaleiros itinerantes de fronteira, como sendo evangelistas impetuosamente independentes que viajavam a cavalo. Mas os cavaleiros itinerantes metodistas, sob a liderança de um discípulo de Wesley, Francis Asbury, eram mais um movimento paramilitar do que uma associação autônoma. Os evangelistas iam aonde Asbury os direcionava e regularmente reportavam-se a ele. Eram demitidos se viessem a se mostrar ineficazes ou violassem as regras do grupo. Inquestionavelmente, o evangelismo da fronteira americana entre 1800 e 1860 é uma história metodista, e não teria acontecido sem a estratégia e estrutura desenvolvida por Asbury. Os cavaleiros itinerantes eram indivíduos decididos, mas não deixavam de prestar contas. Os valores positivos da prestação de contas podem ser denotados ao longo da história da Igreja. Por mais de vinte séculos, não há um único exemplo em qualquer lugar de um sistemático movimento missionário ou de renovação sem as estruturas próprias da prestação de contas.
Aplicação Contemporânea
Uma coisa é afirmar a prioridade da prestação de contas; outra totalmente diferente é pô-la em prática na vida da igreja. Os pentecostais e carismáticos debatem-se com o conceito da prestação de contas. Muitos de nossos heróis são lembrados como individualistas inflexíveis que desdenhavam as "instituições feitas pelos homens". A ênfase pentecostal na experiência pessoal é parte do problema. Os pentecostais acreditam que Deus ainda fala e faz tudo o que sempre falou e fez. Por conseguinte, quando alguém afirma ter tido uma experiência que vai de encontro à comunidade (ou seja, igreja ou denominação), é quase impossível ter sucesso na argumentação contra tal afirmativa.
Quando examinamos as Escrituras, a História e a experiência prática, verificamos que todo mundo precisa prestar contas a alguém. É nesse ponto que a denominação, como associação voluntária, é importante ao ministro. Ela prove uma estrutura para o ministro viver em relacionamentos de prestação de contas aos colegas de ministério. Unimo-nos uns aos outros para cooperar na missão, apoiar uns aos outros, incentivar uns aos outros e proteger uns aos outros com amor.
Os ministros, como profissionais, precisam desesperadamente de tal estrutura. Os ministros têm menos supervisão direta do que quase todos os outros grupos de profissionais. Gozam de considerável liberdade na execução de suas responsabilidades e têm intervalos de tempo que, se não forem cuidadosamente administrados, podem levá-los a padrões de comportamento danosos a eles, suas famílias e igreja a que servem. Tais padrões podem conduzir o ministro a pecados crassos ou impedi-lo de obter determinado nível de progresso. A denominação prove uma rede de segurança, porque cria possibilidades para relacionamentos de prestação de contas com colegas. Nas Assembléias de Deus, as estruturas de prestação de contas operam no âmbito local pelas convenções estaduais, e no âmbito nacional, pela Convenção Geral. Essas estruturas referem-se a assuntos pessoais e de desempenho.
O ministro, com certeza, renuncia certo patamar de independência para fazer parte de uma organização maior. O ministro de qualquer denominação não pode vivenciar o ideal autônomo da cultura ocidental. Não obstante, a prestação de contas possibilita um estilo de vida cristão mais autêntico, baseado no amor, e não na defesa dos próprios direitos e no interesse pessoal.
Parte da prestação de contas do ministro, assim como de todo membro do Corpo de Cristo, é reconhecer o papel dado por Deus àqueles em posição de autoridade: guiar, guardar, apascentar, alimentar e disciplinar. O escritor da carta aos Hebreus declarou que os crentes devem imitar a fé dos líderes (Hb 13.7). Obviamente, o ministro deve seguir a liderança e entusiasticamente participar na vida da comunidade em geral.
Há, porém, uma diferença entre prestação de contas e a subserviência. A prestação de contas que o ministro deve à denominação é limitada, porque Jesus é o Rei e todas as estruturas humanas estão sujeitas a enganos e erros. Neste ponto, todos os reformadores do século XVI estavam de acordo. Os líderes denominacionais estão sujeitos às Escrituras, constituição e estatutos de sua denominação em particular e, nas Assembléias de Deus, à Convenção Geral em sessão. Cristo é o Cabeça, e os líderes eleitos exercitam a autoridade do Senhor dentro da carta regia de sua Palavra. A autoridade espiritual dos líderes é derivada de sua sensibilidade e obediência a essa Palavra.
A história da Igreja mostra que nem sempre as organizações eclesiásticas estão certas; na verdade, às vezes estão espetacularmente erradas. Alguém imediatamente lembra-se da comissão que negou a designação de William Carey para a índia, depois que um de seus membros ter dito: "Jovem, se Deus pretendesse salvar os pagãos, Ele não teria tomado certas medidas para Ele mesmo efetuá-lo?"
Conclusão
A prestação de contas é um importante meio para canalizar nossas forças e recursos como líderes. É absolutamente essencial, se queremos evitar nos comportar de maneira destrutiva. O Tennessee era um dos rios mais destrutivos dos Estados Unidos. Suas freqüentes e extensas inundações causavam enormes perdas de pessoas e propriedades. Era um rio selvagem. No começo dos anos 30, o governo federal, sob a liderança de Franklin Delano Roosevelt, construiu uma série de represas no rio Tennessee e em alguns de seus principais tributários. O projeto deu fim às terríveis inundações e canalizou a energia do rio nas represas hidroelétricas. A força do rio foi aproveitada, trazendo eletricidade ao vale do Tennessee e impulsionando toda a região para o século XX. A força sempre esteve no rio, mas nunca havia sido utilizada para propósitos produtivos.
Quem pode dizer que nós, como o rio, não precisamos de estruturas para sermos aproveitáveis? Não se trata de perda de poder, mas de canalização de poder e energia para os propósitos redentores de Deus. É isso que a disciplina e a prestação de contas podem fazer em nossas vidas.
Fonte: Livro "O Pastor Pentecostal" - CPAD - Pag. 346-350
A paz do Senhor, passei aqui para dizer que no artigo novo do Ainda Existe Paz, há um link para seu blog, que Deus continue te abençoando.
Principalmente prestações de contas financeiras para haver transparência entre receitas e despesas de tudo aquilo que for administrado.