Por Cristiano Santana
Dando continuidade à postagem anterior, cumpre-nos agora demonstrar que, ao contrário do que pensa o bispo Macedo, não existe nenhum antagonismo entre a razão e a emoção, como se a primeira fosse uma virtude e a segunda um vício. Pesquisas bíblicas, filosóficas e psicológicas apontam que a razão e a emoção trabalham de forma colaborativa, em regime de parceria, sendo impossível, portanto, dissociá-las nos fenômenos comportamentais.
O ser humano é naturalmente emotivo
Não podemos esquecer de que também somos seres biológicos, portadores de comportamentos instintivos que são essenciais à sobrevivência. Nesse contexto, as emoções são definidas como reações praticamente automáticas a determinadas situações boas ou ruins. É como um choque brusco, intenso, com aumento ou parada dos movimentos: o medo, a ira, o apaixonar-se etc.
Vejamos o que nos diz o Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano
Do ponto de vista biológico, não pairam dúvidas quanto a importância da emoção. A alegria e a tristeza estão respectivamente ligadas ao prazer e à dor: estes têm a função de impelir o sujeito a permanecer na condição em que está ou a deixá-la. A alegria excessiva (não atenuada pela preocupação da dor) e a tristeza extrema (não aliviada por nenhuma esperança), a angústia, são emoções que ameaçam a existência. Mas na maioria da vezes as emoções ajudam e sustentam a existência, e algumas, como o riso e o pranto, ajudam mecanicamente a saúde. A utilidade das emoções decorre da função exercida em face da vida por seu tom fundamental, prazer ou dor. "
A importância da inteligência emocional
Segundo estudos realizados pelo psicólogo Daniel Goleman, autor do livro "A Inteligência Emocional", (Editora Campus/Elsevier, 1995), 90% da diferença entre as pessoas que obtém grande sucesso pessoal e profissional, e aquelas com desempenho apenas mediano, se deve a fatores relacionados a competências comportamentais, ligadas à emoção, mais do que às habilidades aprendidas na escola.
O conjunto destas competências é o que podemos chamar de Inteligência Emocional. Elas têm cinco componentes principais:
- Autopercepção - que é a capacidade das pessoas conhecerem a si próprias, em termos de seus comportamentos frente às situações de sua vida social e profissional, além do relacionamento consigo mesmo.
- Autocontrole - ou capacidade de gerir as próprias emoções, seu estado de espírito e seu bom humor.
- Auto-motivação - capacidade de motivar a si mesmo, e realizar as tarefas e ações necessárias para alcançar seus objetivos, independente das circunstâncias.
- Empatia - habilidade de comunicação interpessoal de forma espontânea e não verbal, e de harmonizar-se com as pessoas.
- Práticas sociais - capacidade de relacionamento interpessoal e de trabalho em equipe.
A inteligência emocional refere-se à capacidade de reconhecer os próprios sentimentos e os dos outros. Analisando estes fatores comportamentais que compõem a inteligência emocional, percebemos que eles estão intimamente relacionados ao sucesso e às realizações pessoais.
Em qualquer área da atividade humana, pessoas com estrutura emocional sólida, conseguem melhor produtividade, e, por isto, destacam-se entre as demais. Um esportista que não estiver bem, emocionalmente, mesmo sendo um atleta de destaque, dificilmente obterá vantagem sobre aquele que se apresentar com alto quociente emocional.
A base emocional da fé
Há quem diga que a fé não tem relação alguma com a emoção. Nesse sentido, devemos apenas crer, mas não sentir. Outra mentira! Se pararmos para pensar, veremos como a nossa crença está cercada de componentes emocionais. Para começar, se tenho fé que vou obter alguma coisa da parte de Deus, é porque eu a desejo, e o desejo está completamente ligado à vontade, que é, adivinhem... uma emoção. Como diz Platão, a vontade está em todos os movimentos da alma, ou melhor, todos os movimentos da alma não são mais do que vontade.
A fé também manifesta um sentimento de dependência incondicional ou absoluta em relação a Deus. Se busco a Deus em oração é porque eu preciso do seu auxílio, e esse comportamento também tem uma forte carga emocional. Quando creio, o meu coração se enche de esperança, e a esperança só pode ser expressa por humanos e não por robôs desprovidos de sentimentos.
Conclusão:
O pressuposto dessas observações é que não só é impossível compreender a natureza e o comportamento do homem sem levar em conta as emoções, mas também que as próprias emoções têm função diretiva sobre a totalidade da conduta humana. Viver significa querer; Para Schopenhauer, querer significa desejar; e o desejo implica a ausência do que se deseja, ou seja, deficiência e dor. As emoções, portanto, são modos de ser fundamentais da existência humana
O que o homem precisa aprender é exprimir suas emoções racionalmente. A idéia é obter colaboração entre a razão e emoção, e não confronto ou restrição. Se alguém me aborreceu, tenho todo o direito de estar irritado. Entretanto, tenho de escolher a forma correta de repreender esse alguém que me aborreceu, sem agredi-lo ou xingá-lo.
O problema nem sempre está relacionado com a emoção que sentimos, mas com a falsa percepção da realidade, causadora dessa emoção. Se eu acredito que há uma leão na minha sala, inevitavelmente sentirei medo. Perceba, porém, que o medo que sinto não é o vilão da história, mas sim a falsa percepção que tenho da realidade. Nesse caso, a cura depende de um ajuste mental, e não emocional.
Bem, antes de que me acusem de não ter usado a Bíblia, somente a filosofia, vejamos o exemplo de Jesus. Momentos antes da traição de Judas, o Senhor Jesus entregou-se completamente à força da emoção. Diz o relato bíblico que "levando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se" (Mateus 26:37). No versículo seguinte (38) Jesus diz: "a minha alma está profundamente triste até a morte". A angústia dele foi tanta que o seu suor se tornou em gotas de sangue.
Fico imaginando se o bispo Macedo estivesse lá no Getsemani, naquele momento. Ele iria dizer para Jesus: "Qual é Jesus, tá dando mole pra essa emoção bandida? Esse negócio de tristeza, de agonia, é pra fracos. Pare pra pensar, use a sua razão, pois Deus só trabalha com a mente" . Seria patético.
O episódio do Getsêmani nos revela que o Deus não teve vergonha de identificar-se com o homem naquilo que lhe é mais peculiar: a emoção, o sentimento. O Cristo ressuscitado sabe exatamente quais são as angústias que cercam a existência de qualquer ser humano; e é precisamente por isso que ele tem a capacidade de nos ajudar em nossas fraquezas.
Quando você estiver triste, chore. Quando alegre, sorria. Se preocupado, expresse a sua ansiedade diante de Deus em oração. Deus compreende perfeitamente os seus sentimentos e as suas emoções. Diz a Bíblia que Deus não despreza o coração contrito e quebrantado.
Finalizo com uma frase de Pascal:
"O coração tem razões que a própria razão desconhece"
Fontes de consulta:
Dicionário de Filosofia, Abbagnano, Nicola. Editora Martins Fontes
Dicionário de Filosofia, Lalande, André. Editora Martins Fontes
Teologia Moderna. Mackintosh, H. R. Editora Fonte Editorial
Texto de Ari Lima
Texto de Sérgio C. Navega
Graça e paz amado,de fato não podemos separar rezão e emoção,como vc mesmo disse andam juntas,vemos isso claramente nas escrituras.oque não podemos fazer é nos deixar dominar pelas emoções e sim quando tivermos de agir,que posamos faze-lo com a razão....bom fim de semana e fica com Deus...
http://wwwserenissima.blogspot.com/
Sr. Cristiano, que pena você demonstrar com suas palavras que todo seu estudo e envolvimento com o mundo o torna cego mediante a voz que vem de Deus.
O sr. foi até muito infeliz em sua citação bíblica, não reconhecendo que até mesmo o SENHOR Jesus enfentrou seus momentos de fraqueza como ser humano, porém em DEUS, logo se recompôs, dizendo: "todavia, não seja como eu quero, mas como Tu queres." Mateus 26.39.
A emoção a que o bispo se refere é aquela que nos faz agir pelo impulso, que nos faz surdos à voz de Deus e nos engana, e não aos sentimentos de amor, compaixão, benignidade, e os demais frutos do Espírito Santo.
Se o próprio SENHOR Jesus tivesse agido pela emoção, teria aceitado as propostas do diabo quando foi levado ao deserto para ser tentado.
Espero que possa perceber que todo seu conhecimento, estudo e entendimento "ao pé da letra" está te levando a ser como os fariseus do passado, que apesar de crer apenas em um Deus, não foram capazes de reconhecer o Senhor Jesus como Filho de Deus.
Outra coisa: Não se ligue a "Uma visão do mundo", como diz seu blog.
Busque "Uma visão do Reino de Deus".
Que Deus te abençoe abundantemente e abra os seus olhos.