Por Cristiano Santana
Das muitas contradições que observo nas igrejas atualmente, creio que o tema da relação com a democracia figure entre as mais gritantes. Isso porque, se por um lado os pastores exaltam o Estado Democrático de Direito, com suas liberdades constitucionais de pensamento e de crença, fundamentais para as atividades de qualquer instituição religiosa, por outro lado eles manifestam persistente resistência contra a aplicação dos princípios da democracia dentro de suas igrejas. Em outras palavras, a democracia vale fora da igreja, mas não dentro dela. Fora da igreja a democracia é de Deus, mas dentro é do diabo.
Fui convencido mais uma vez dessa realidade há algumas semanas atrás, quando ouvi um pastor dizer que a democracia não funciona na sua igreja. Se fosse uma manifestação isolada, poderíamos até relevar, mas não há dúvidas de que essa aversão eclesiástica à democracia é generalizada.
Entendo que a forma de governo de grande parte das igrejas evangélicas não comporta um sistema amplamente democrático. É o caso, por exemplo, da Assembléia de Deus, na qual a função de pastor presidente costuma ser vitalícia. Não quero discutir a legitimidade de tal prática pelo fato de acreditar que a mesma se justifica em certos contextos que não tenho tempo de discutir aqui. Em outras igrejas o poder costuma estar intensamente concentrado nas mãos do fundador, como por exemplo, a Igreja Universal, Cristo Vive, Internacional da Graça de Deus, etc.
Não se pode exigir naturalmente que toda igreja realize periodicamente um pleito para eleger seu presidente ou pastor, mas não há dúvidas de que, mesmo assim, alguns princípios democráticos podem ser seguidos pelo pastor de qualquer igreja. Como exemplo, listarei alguns:
1 - Considerar respeitosamente as reclamações e sugestões dos membros;
2 - Prestar contas das despesas e receitas da igreja;
3 - Justificar o motivo pelo qual indeferiu um pedido;
4 - Contar aos membros a verdade por trás dos motivos para evitar assim um clima desnecessário de tensão;
5 - Deixar que cada grupo eleja seu líder (mocidade, por exemplo);
6 -Envolver-se com os departamentos de igreja, participando com dicas e acompanhando o progresso de cada um deles;
7 - Tratar a todos da mesma forma sem privilegiar ninguém;
8 - Fazer reuniões regulares com a igreja em geral para tratar de temas pertinentes à administração da igreja;
9 - Envolver a igreja na tomada de decisões;
10- Não centralizar as decisões em torno de si, mas delegar a autoridade;
Quando um líder diz que a democracia "não funciona" na sua igreja, ele está implicitamente rejeitando a todos os princípios acima descritos. Aliás, só existem dois tipos de líderes: o autocrático e o democrático. O primeiro gosta de concentrar todo o poder, o segundo administra em benefício do grupo e para o grupo.
Um pouco de democracia sempre é bom. Um grande exemplo da sua aplicação na Bíblia foi a eleição dos diáconos.
Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, heios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra. Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau, um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia. (Atos 6:3-5)
Percebam que não foram os apóstolos que elegeram os diáconos, mas foi a igreja. É isso aí, os apóstolos gostavam um pouco de democracia.
Em face dos argumentos expostos, fica cristalinamente demonstrado que uma suposta antítese entre igreja e democracia não existe. O regime do governo do povo é perfeitamente compatível com a vida da Igreja. Interessante é que a palavra Igreja etimologicamente vem do termo "ekklesia"(assembléia).
Então que lugar se não em uma igreja (assembléia) é o melhor para praticarmos a democracia?
Se algum pastor não concorda comigo, fica aqui uma pergunta:
O Sr. gostaria que o Brasil voltasse à época da ditadura?
Irmão vim fazer uma visita ao seu blog, li algumas coisas, e dou graças a Deus pelo seu empenho em proclamar a bendita Palavra. Quero porém deixar algo mais do que um simples comentário. Quero deixar estas palavras: Que escreva sempre com humildade, de todo o coração, e com muito amor, escreva principalmente as verdades vividas na sua vida, porque eu creio que o seu alvo e o meu é sermos úteis, e atingirmos o coração dos que lêem. Aproveito para fazer um convite. gostaria de te-lo como meu amigo virtual na Verdade que Liberta. As minhas saudações em Cristo Jesus.
Prezado irmão
Obrigado pelas considerações. Já visitei seu blog, e já estou lhe seguindo.
Um grande abraço
Olá Pr Cristiano,
Quando li de primeira mão o tema do artigo confesso que fiquei chateado, mas ao ler percebi que compartilhamos da mesma idéia. Eu estava pesquisando sobre este tema pois sou professor da EBD em nossa igreja e como minha área profissional é Gestão de pessoas entrei no assunto do papel do lider em que este deve respeitar as individualidades ser descentralizador, motivador, respeitar seus liderados, porem nesta hora fui corrigido pelo Pr local, ele se dirigiu a congregação e disse "na igreja não existe democracia e sim teocracia, o lider não tem que pedir opinião para ninguem sómente a Deus...", confesso que fiquei muito chateado ainda mais sem oportunidade para argumentar e o pior é ouvir as indiretas do púlpito depois disto, sentenças como "rebeldes que não querem ser sujeitos as autoridades constituidas..." Tudo isto é muito triste.
Mas, meus parabéns pelo seu belo artigo, percebo que não estou sozinho.
Abraço em Cristo.