Por Cristiano Santana
Por mais que nos esforcemos, há muitos fatos do mundo evangélico que realmente nunca vamos compreender. E se tentarmos elaborar alguma explicação, corremos o risco de ser acusados de caluniadores. Um desses fatos é a recusa persistente, de uma parte das lideranças eclesiásticas, da obrigação de prestar contas das finanças da igreja. A pergunta que não quer calar é esta: Por que os membros não merecem receber esse tipo de informação?
Em minha vivência cristã já ouvi inúmeras explicações para essa omissão. Infelizmente nenhuma delas conseguiu me convencer, e creio que não convencerá nenhuma pessoa sensata que prime pela transparência.
Há anos atrás era costume, pelo menos na Assembléia de Deus, reservar um dia para um espécie de culto administrativo, no qual era lido o relatório financeiro da igreja: quanto entrou, quanto saiu e o saldo do mês. Mas o tempo foi passando, a modernidade foi chegando, as igrejas se transformaram em corporações...Então as finanças da igreja passaram a ser classificadas como "top-secret", segredo de estado, guardadas a sete chaves, só conhecidas por um grupo seleto: o pastor-presidente e os assessores da tesouraria.
Mas vamos às duas principais explicações que são dadas atualmente. A primeira diz que o dízimo é do Senhor e que não cabe ao membro saber qual será a destinação da sua contribuição financeira. A segunda explicação: "é perigoso dar publicidade à movimentação financeira da igreja. A igreja poder ser assaltada, ou assediada por pessoas oportunistas que fingirão ser crentes para obter vantagens, como cestas básicas, por exemplo".
Quanto à primeira explicação, é preciso ressaltar que as igrejas são classificadas pelo Código Civil como organizações religiosas, resultado da associação de várias pessoas, denominadas membros, que são portadores de direitos e deveres, de acordo com o estatuto social registrado em cartório. Uma das prerrogativas dos membros é tomar parte nas decisões administrativas da igreja, participando ativamente das assembléias deliberativas. Por isso, prestar contas ao membros não é uma opção, mas uma obrigação do pastor, já que ele não é gestor de seu dinheiro, mas do dinheiro de todos, dinheiro da IGREJA.
Nem precisaríamos invocar a lei. Basta imaginar a seguinte situação: O crente chega à igreja contente para adorar ao Senhor. Percebe então que o banco em que está sentado está cheio de farpas. De repente cai um pingo de água em sua cabeça, proveniente de um vazamento no teto. Quando vai ao banheiro, não há papel higiênico nem papel toalha. Acham que ele deve ficar calado? Claro que não! Deve cobrar do pastor satisfações quanto à aplicação que está sendo dada ao dízimo "suado" que dá todo mês e recusar essa balela de que o pastor prestará contas a Deus se estiver utilizando indevidamente o dinheiro. NÃO! Se dissipar o dinheiro da igreja, o pastor será SIM responsabilizado perante os homens, civil e criminalmente. Que ele se entenda depois com Deus no juízo final.
Quanto à segunda explicação, que tenta evitar dar publicidade à situação financeira da igreja, os argumentos não resistem às mais simples refutações. O pastor não quer chamar a atenção dos assaltantes, mas não é isso que faz quando chega à igreja com um carro do ano, às vezes até importado? Quanto aos oportunistas, qualquer pastor experiente é capaz de discernir entre o sincero e o aproveitador.
Estamos diante então, de um fato inexplicável. Conhecemos o faturamento das maiores empresas do mundo: Microsoft, Petrobrás, Bradesco, etc. Também conhecemos os detalhes das licitações de milhares de empresas públicas, através de sites como o Portal Transparência. Também todo condomínio, neste enorme Brasil, distribui balancetes financeiros aos moradores. Mas NÃO podemos conhecer a vida financeira de algumas igrejas. Por quê? Eu gostaria tanto de uma resposta convincente!
Alguns líderes procuram tapar o sol com a peneira, dizendo: "Espera aí! Quem quiser pode ir à tesouraria para obter essas informações".
O problema é que, quando o membro tenta fazer valer o seu direito, sabe o que acontece? "O tesoureiro saiu, o contador levou o livro caixa, a solicitação deve ser feita por escrito", etc. Através de astutas estratégias, faz-se de tudo para que o crente não obtenha a informação.
Se pelo menos resumos financeiros fossem dados apenas àqueles que são reconhecidos oficialmente como membros, já seria bom, mas nem isso!
Quero finalizar, citando algumas palavras do livro "O Pastor Pentecostal" da CPAD, encontradas nas páginas 346-350.
Por sua própria natureza, nossa humanidade requer prestação de contas.
A história dos grandes evangelizadores não é um registro de individualistas que não se prendiam a regras organizacionais, mas de indivíduos resolutos que atuavam em relacionamentos de prestação de contas.
Os valores positivos da prestação de contas podem ser denotados ao longo da história da Igreja. Por mais de vinte séculos, não há um único exemplo em qualquer lugar de um sistemático movimento missionário ou de renovação sem as estruturas próprias da prestação de contas.
Os ministros, como profissionais, precisam desesperadamente de tal estrutura. Os ministros têm menos supervisão direta do que quase todos os outros grupos de profissionais. Gozam de considerável liberdade na execução de suas responsabilidades e têm intervalos de tempo que, se não forem cuidadosamente administrados, podem levá-los a padrões de comportamento danosos a eles, suas famílias e igreja a que servem.
Por que vocês acham que aconteceu o fato abaixo?
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