Por Cristiano Santana
Finalizando o artigo "Benny Hinn, Morris Cerullo e a doutrina herética da transferência de riquezas", abordaremos agora a parte final do livro "A Última Grande Transferência de Riquezas", com o propósito de demonstrar efetivamente que a doutrina esposada por Hinn e Cerullo não trás garantia alguma de que as riquezas dos ímpios serão transferidas, por intervenção divina, para as mãos dos crentes, a ponto de transformá-los nos grandes controladores do capital.
A partir do capítulo 4, Cerullo tenta lançar, como alicerce principal de sua doutrina, o versículo de Provérbios 13:22
“O homem de bem deixa uma herança aos filhos de seus filhos, mas a riqueza do pecador é depositada para o justo”.
Animado pela sua revelação, ele incentiva o leitor dizendo: “Agora é o tempo da grande transferência final de riqueza”; “Eu creio que Deus está se preparando para liberar o maior fluxo de riqueza de um lugar para outro na história da humanidade!”; “Agora é o tempo para a riqueza dos ímpios ser transferida para os justos!”; “Os planos de Deus para você têm a ver com o seu caráter e a maneira como você pensa. Deus está se preparando para lançar um fluxo de poder criativo aos Seus santos, para começar a liberar a última grande transferência de riqueza. Aqui está o que diz a Bíblia”.
A primeira observação que deve ser feita aqui é que as melhores práticas exegéticas dizem que doutrinas bíblicas devem ser construídas de forma sistemática. Um determinado tema deve ser analisado levando-se em consideração TODA a Bíblia e não apenas versículos isolados, como no caso acima. Deixar de seguir esse método e, além disso, não utilizar o Novo Testamento como base escriturística para corroborar determinada doutrina, é algo gravíssimo.
Além disso, devemos fazer a seguinte pergunta: Ao longo da história temos presenciado, de forma constante e invariável, a riqueza do pecador sendo depositada para o justo? Claro que não! Todo bom cristão episodicamente sente-se tentando a repetir as palavras de Davi: “Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios.” (Salmos 73:3). Desde tempos imemoriais a injustiça social tem perseguido a humanidade. Isso já existia no Israel antigo e continuou através da história. Na Idade Média aprendemos sobre a tirania dos senhores feudais sobre os camponeses que tinham de pagar até pelo instrumento que usavam. Não foi diferente na era moderna, época em Karl Marx denuncia, de maneira contundente, o problema da opressão dos ricos sobre os pobres. Lembremos também dos milhões de cristãos que foram torturados e mortos em nome da fé até hoje.
A constatação de que a riqueza do pecador nem sempre é depositada para o justo levanta, contudo, o problema da inerrância das Escrituras, pois estaríamos dizendo que a declaração de Provérbios 13:22 não é verdade. Nesse caso é necessário dar uma interpretação alternativa para o texto em referência que não faça violência ao seu sentido.
Eu particularmente gostei da interpretação da obra A Critical and Exegetical Commentary on the Book of Proverbs, de Crawford Howell Toy:
Deixar riquezas para os descendentes era em Israel (assim como entre os povos antigos em gral) um teste de prosperidade. Dizia-se que as bençãos vinham ao justo, mas não aos pecadores, cujas riquezas, ao contrário, passavam (através de leis naturais) para as mãos dos justos.
O que me chama a atenção no comentário é a expressão “leis naturais” que exclui qualquer interferência sobrenatural nessa transferência de riquezas dos ímpios para os justos. Na verdade não lemos no versículo que “Deus depositará a riqueza do pecador para o justo”.
Para você entender melhor o que quero dizer, leia estes comentários:
A riqueza ganha desonestamente freqüentemente acaba rápido beneficiando ao justo mais do que o ímpio que desonestamente a acumulou - Willmingtons Bible Handbook
A riqueza injustamente adquirida, ou utilizada perversamente, é tirada daquele que a tem, e em última análise cai em melhores mãos. Os desonestos não podem mantê-la e conseqüentemente não podem deixá-las para seus filhos. - Pulpity Commentary
Um homem justo é de tal forma abençoado, que ele pode ajudar ajudar seus netos incluindo-os em seu testamento. Mas a riqueza que o pecador pode adquirir frequentemente é perdida, passando para as mãos dos justos. Talvez isso aconteça por causa do modo imprudente e tolo com que o pecador administra seu dinheiro. - The Bible Knowledge Commentary
O que assimilei desse versículo é que seu autor escreveu baseando-se num sistema temporal de recompensas e punições. É geralmente sabido que aqueles que agem desonestamente acabam sofrendo as sanções públicas e legais por seus atos, ao passo que aqueles que trabalham honestamente e livres de vícios têm mais possibilidade de construir um patrimônio sólido, deixando, assim, herança para os filhos e os filhos de seus filhos.
Vejamos, por exemplo, o caso do juiz Nicolau, conhecido como “lalau” que desviou milhões de reais durante a construção de um prédio do TRT. O seu patrimônio, após ter sido bloqueado e seqüestrado pela justiça, com certeza teve uma destinação que certamente beneficiará pessoas mais justas. Isso tudo faz parte de um processo natural, legal, sem relação com uma intervenção sobrenatural de Deus.
O justo para o escritor sagrado era o homem que obedecia às leis civis de Israel, que cumpria seus compromissos e contratos, que cuidava com responsabilidade da família. Esse justo não tem relação alguma com essa "crentaiada" que vive nas igrejas buscando riquezas sem assumir um compromisso ético.
Talvez Provérbios 13:22 comporte um interpretação escatológica. No fim da história os filhos de Deus herdarão todas as riquezas da terra que agora pertencem, na sua maioria, aos ímpios. Mas o que não podemos é forçar a interpretação do Morris Cerullo e Benny Hinn.
Paz, prezado Cristiano.
Acompanhei os três posts e achei maravilhosa a reflexão e abordagem... PArabéns!!!
Que o ETERNO Prossiga te abençoando!
Abraço!
Prossigo para o Alvo... Fp 3.14
Obrigado, caro Robson.
Obrigado por ter incluído meu blog na lista da sua página. Também fiz o mesmo. Inclui o seu na minha lista também.
Abraços
Cristiano