ENSINAMENTOS ESCANDALOSOS DE JESUS: "SE ALGUÉM TE BATER NA FACE DIREITA, OFERECE-LHE TAMBÉM A OUTRA".
Por Cristiano Santana
Otto Borchert, em seu livro "O Jesus Histórico", nos diz que "Jesus ainda está , hoje em dia, em contradição com o pensamento de toda a humanidade. isto porque o homem natural, pelo fato de estar manchado pelo pecado, o considera um inimigo". Borchert acrescenta que Jesus não está somente em contradição com as idéias da humanidade em geral. O código ético de Jesus apresenta uma forte oposição aos pensamentos dos próprios cristãos!
Para comprovar essa realidade, consideremos o trecho do Sermão da Montanha, reproduzido acima. A tendência é aplicar uma interpretação espiritualizada, pois não se pode admitir que alguém, ao levar um tapa na face direita, ofereça covardemente a face esquerda. O correto, segundo dizem, é reagir ao agressor, pois "homem que é homem não leva desaforo pra casa". Quem se deixa agredir, de forma apática pelos outros, sem reagir, no mínimo é um sadomasoquista.
Mesmo extraindo um sentido figurado, é inevitável concluir que o princípio que Jesus nos ensina, a partir dessa passagem, é que não se deve alimentar o sentimento de vingança.
"Olho por olho, dente por dente". Essa regra da Lei de Moisés, conhecida como Lei de Talião, também constava no Código de Hamurabi, um rei que viveu na Mesopotâmia, por volta de 1.700 A.C. A pergunta que se faz é a seguinte: Será que Jesus estava discordando do preceito da Lei? Evidente que não. É preciso salientar que a Lei da Talião, que previa uma pena proporcional ao crime, só podia ser aplicada pelos juízes, os guardiões da Lei. Não era uma prerrogativa para a vingança pessoal, pelo contrário, essa cláusula foi estabelecida para limitar a vingança e ajudar o tribunal a administrar um castigo não muito rígido, nem muito indulgente. Percebe-se, assim, que o Senhor Jesus, extraíndo o significado mais profundo da Lei, confirma a proibição da vingança pessoal.
Apesar desse ensino tão claro do Mestre, é impressionante a frequência com que o ignoramos e, sem admitir, o detestamos! Concordando com Borchert, devo dizer que o fato de algumas declarações de Jesus irem contra a convicção da maioria das pessoas, nesse caso, o conceito de que a vingança é algo correto, é uma prova inquestionável da autenticidade dos evangelhos. Ninguém inventaria esse Jesus. Só alguém que veio dos céu poderia ter ensinado essas coisas.
Como a humanidade exalta a vingança! Aristóteles já ensinava que a reação colérica frente ao prejuízo deliberado de uma pessoa sobre a outra é vista por como emotiva e justificável. Boa parte da literatura universal também a exalta. Basta lembrar de "Hamlet" de Shakespeare e "O Conde de Monte Cristo" de Alexandre Dumas. Quantas cenas de violência no cinema e na televisão também são motivadas pela vingança!
Na vida real a vingança também é uma constante. Ela foi uma parte importante de muitas sociedades pré-industriais, especialmente na região mediterrânea, e ainda hoje persistem em algumas áreas. Durante a Idade Média não se considerava um insulto ou injúria resolvidos até que vingados. o passado feudal do Japão a classe samurais mantinha a honra de sua família, clã, ou senhor através do katakiuchi, ou assassinato vingativo. Esses assassinatos também envolviam os parentes daquele que ofendeu. O filme "Abril Despedaçado", estrelado por Rodrigo Santoro, também nos conta sobre as guerras entre famílias no nordeste brasileiro. A morte do membro de um família só podia ser compensada com o assassinato de um membro da família rival. O tempo para isso? Quando a mancha do sangue da roupa do morto estivesse amarelada!.
Infelizmente, grande parte dos cristãos modernos também são adeptos da filosofia da vingança. Como obreiro já ouvi inúmeros "tristemunhos" de crentes dando culto de ação de graças a Deus porque soube que alguém que o perseguia foi castigado pelo Senhor através de um atropelamento, demissão ou até câncer. No final de seus relatos, os crentes que testemunharam a "vingança do Senhor" dizem para toda a Igreja: "irmão, se alguém está perseguindo você, entrega nas mãos do Senhor". O problema é que "entregar nas mãos do Senhor" significa pedir para o Senhor "acabar com a raça do infeliz"! Como isso é tão contrário aos ensinamentos do Senhor Jesus, que nos ordenou a bendizer os que nos maldizem, e orar pelos que nos perseguem! Se eu souber que meu inimigo morreu, a reação correta seria chorar por mais uma alma que pereceu sem conhecer ao Senhor.
Não há dúvidas de que a vingança só traz prejuízos. Temos que utilizar aqui o que há de melhor do pensamento humano. Confúcio nos diz que "é melhor perdoar do que vingar-se, porque à vingança segue-se sempre o arrependimento". O filósofo Epicuro já dizia que "a vingança é a justiça do homem em estado selvagem!" A psicanálise moderna nos explica a motivação por trás da vingança: "O objetivo da vingança é, em essência, fazer com que a pessoa que prejudicou passe pela mesma situação de dor da vítima".
Vou mais longe, nessa argumentação, declarando que, em algumas situações, é melhor "tomar um tapa na cara" e não reagir! O fato é que ás vezes as leis da física se aplicam nas relações humanas. Para toda ação há uma reação. Às vezes é mais proveitoso ignorar a agressão para assegurar que tudo acabe ali mesmo. Muitas tragédias acontecem por causa de uma retaliação. Por causa de uma pequena agressão, o crente revida. O agressor, então, ao se ver desafiado volta em casa, pega uma faca ou um revólver e manda a alma do crente mais cedo para o céu. Não reagir às vezes representa mais prudência do que covardia, sendo certo, também, que por esse ato de covardia o cristão pode ganhar uma alma para o Reino de Deus, pois, fazendo bem ao seu inimigo, "amontará brasas sobre a sua cabeça" (Romanos 12:20)
"Está louco!". Alguém pode dizer. "Nunca darei minha cara à tapa!". Pois saiba que foi com essa doutrina que Gandhi obteve a independência da Índia. Quem viu o filme biográfico de Gandhi, pode ver como ele permanecia imóvel enquanto os soldados dos imperialistas ingleses o agrediam. Quando os revolucionário indianos quiseram apelar para a violência, Gandi fez um greve de fome, pois não apoiava o embate físico em hipótese nenhuma.
Não se proíbe aqui o recurso à legítima defesa. Está previsto no atual ordenamento jurídico. É causa de exclusão de punibilidade. É óbvio que tenho de me defender contra atos que atentem gravemente contra a minha integridade física. Se não houver outra forma (conversar, fugir, etc.), terei de me defender. Isso não significa aceitar facilmente uma provocação ou ficar em casa arquitetando uma forma de se vingar daquele que nos causou um prejuízo moral, físico ou material. A Justiça existe para isso. Se alguém desejar a reparação do dano, que resolva o litígio na Justiça, através da competente ação cível ou criminal.
Desejar a reparação de um dano na justiça não é a mesma coisa que procurar vingança. Até mesmo porque a doutrina jurídica atualmente entende que a pena não visa castigar o réu, mas tem um objetivo pedagógico, ou seja, visa educar o réu.
Depois de tanto ter falado, sei que muitos não irão concordar com esse artigo. Sabe por quê? Porque o ensino de Jesus, proibindo a vingança, é um escândalo para eles.
Você é crente, mas o seu braço não é? Amém, vai nessa tua força!
Estou plenamente de acordo consigo. Gostei do artigo. Nelson Mandela é um exemplo de que a vingança não resolve nada. É por isso que Deus tem tão poucos amigos, como dizia Santa Teresa de Àvila. Ser cristão é muito difícil. Há realmente coisas que custam muito, mas quanto mais afastados de Deus pior, mais custa suportar certas maldades. Jesus falou assim, porque estava numa união perfeita com o Pai. Mas qualquer um de nós também pode viver nessa união. Aproxime-se de Deus e viva no seu coração esses ensinamentos. A vitória, não é aqui, é no seio de Deus. Não se vê, e as pessoas querem tudo a vista.
Disse Jesus: “não pensem que eu vim para acabar com a Lei de Moisés ou com os ensinamentos dos profetas. Não vim para acabar com eles, mas para dar o seu sentido completo. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: enquanto o Céu e a terra durarem, nada será tirado da Lei. – Nem a menor letra, nem qualquer acento. E assim será até os fins de todas as coisas. Portanto, qualquer um que desobedecer ao menor mandamento e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem obedecer à Lei e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado grande no Reino do Céu. Pois eu afirmo a vocês que só entrarão no Reino do Céu se forem mais fiéis em fazer a vontade de Deus do que os mestres da Lei e os Fariseus.Mt 5:17-19