Extraído de um curto debate que tive com estimados irmãos da comunidade Igreja Presbiteriana do Brasil sobre a doutrina do pecado - http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgPost.aspx?cmm=6681503&tid=5319403273424345751
WALTER:
1 - Se Deus não possui as limitações humanas, por que ele precisou descansar no sétimo dia?:
2 - Se um dos atributos de Deus é a onisciência, por que:
2.1 - Ele criou um ajo que se relebelaria contra ele?
2.2 - Criou o homem sabendo previamente que ele iria errar, viver pouco e sofrer por toda a eternidade?
ZÉ:
1 - Se Deus não possui as limitações humanas, por que ele precisou descansar no sétimo dia?
Resposta: A menção ao descanso no sétimo dia é um motivo cúltico. É uma figura retórica para reforçar a relevância da guarda do Sábado: é tão importante que até Deus o guardou! Assim, o texto de Gn 1.1-2.4a não deve ser lido literalmente, mas dentro da perspectiva teológica sacerdotal do pós-exílio.
2 - Se um dos atributos de Deus é a onisciência, por que:
2.1 - Ele criou um ajo que se relebelaria contra ele?
2.1 - Ele criou um ajo que se relebelaria contra ele?
Resposta: Eu queria saber onde está este fato na Bíblia? Eu nunca li!
2.2 - Criou o homem sabendo previamente que ele iria errar, viver pouco e sofrer por toda a eternidade?
Resposta: Porque, talvez, a coisa seja um pouco diferente do que a interpretação tradicional tenta explicar... rs
Se pensamos em eternidade, devemos entender que Deus não sabia previamente de nada, ele sempre soube, sabe e continuará sabendo... E de todas as coisas! Tanto do pecado quanto do perdão, tanto da condenação quanto da redenção, tanto da criação quanto da consumação. Assim sendo, deve-se admitir que a questão é muito mais complexa do que as assertivas dogmáticas fazem parecer e que as nossas mentes podem captar...
EUCLIDES:
Eu gosto muito de ler mitologias dos povos mais variados e diferentes. Não obstante, na maioria desses relatos simbólicos, há uma série de elementos em comum. Por exemplo a entrada do ''mal'' no mundo, a perda da inocência, dilúvios purificadores, etc:.
Infelizmente, muitas pessoas tem abandonado a sua fé por terem por muito tempo imprimido a essas narrações um caráter literal, fundamentalista. Daí quando ''descobrem'' q a coisa não era bem assim, começam a dizer que são ateus, que Deus não existe, que tudo é ''lenda'', como se pra eles esses relatos fossem mentirosos e não significasse nada. O que é um equívoco pois sempre o mito tras alguma ''verdade'', não da maneira como a maioria concebe atualmente, mas ainda sim uma verdade.
CRISTIANO:
Vocês que gostam de mitos, me expliquem, por favor, quando, como e por quê ocorreu a queda do homem que acabou originando o que a teologia reformada denomina de pecado original, esse mal, que num contexto puramente histórico e universal (não mitológico) tem afetado terrivelmente a natureza humana.
ZÉ:
Cristiano,
A doutrina do pecado original foi uma das escorregadas teológicas do grande Agostinho. Em seu afã de acomodar a doutrina cristã às categorias platônicas, ele entendeu que era lógico admitir que o pecado real tem origem num pecado ideal, ou seja, os pecados que cometemos hoje são sombra do pecado original do Éden. Todavia, o texto de Gn 1-3 parece dizer mais do que isso...
O pecado não é parte da natureza humana criada por Deus, nem é uma entidade autônoma que domina e comanda o ser humano. Ele existe em nós como contingência, ou seja, como realidade que aliena o homem de Deus e das coisas concernentes a ele, em uma palavra, Calvino caracteriza o pecado como "orgulho" ou "presunção" ("Como Deus sereis" Gn 3.5). Aqui é estabelecido um contraste entre orgulho e obediência. E o pecado existente no homem, que se identifica com o orgulho, o impede de obedecer a Deus, de viver para Ele. O drama adâmico, antes de ser fonte, é espelho do drama diário de cada um de nós!
Em contrapartida, através de Jesus, o orgulho e a presunção são sobrepujados pela obediência. Esta é a verdadeira expressão do ministério cristológico e a própria base da exaltação, da vitória de Cristo ("a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobre maneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome" Fp 2.8-9). Jesus viveu sob as contingências do pecado, mas nunca foi dominado por elas.
Desta forma, na perspectiva reformada, calvinista, o pecado está sempre em correspondência o orgulho e a presunção, de modo que os homens só podem vencê-lo mediante uma renovação cristológico-pneumatólica, ou seja, pela sua restauração através da participação na Obediência de Cristo e na Assistência do Espírito da Graça. Somos feitos nova criação e lutamos constantemente contra o orgulho e a presunção, o pecado, que ainda nos assedia. Nesta luta, temos por alvo a Obediência de Cristo e por motivação a Assistência do Espírito. Muito longe da cosmovisão neoplatônica de Agostinho...
CRISTIANO:
Citação da Confissão de Westminster:
I. Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, pecaram, comendo do fruto proibido. Segundo o seu sábio e santo conselho, foi Deus servido permitir este pecado deles, havendo determinado ordená-lo para a sua própria glória. Gen. 3:13; II Cor. 11:3; Rom. 11:32 e 5:20-21.
II. Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da comunhão com Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma.
Gen. 3:6-8; Rom. 3:23; Gen. 2:17; Ef. 2:1-3; Rom. 5:12; Gen. 6:5; Jer. 17:9; Tito 1:15; Rom.3:10-18.
III. Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito dos seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede por geração ordinária.
At. 17:26; Gen. 2:17; Rom. 5:17, 15-19; I Cor. 15:21-22,45, 49; Sal.51:5; Gen.5:3; João3:6.
IV. Desta corrupção original pela qual ficamos totalmente indispostos, adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal, é que procedem todas as transgressões atuais.
Rom. 5:6, 7:18 e 5:7; Col. 1:21; Gen. 6:5 e 8:21; Rom. 3:10-12; Tiago 1:14-15; Ef. 2:2-3; Mat. 15-19.
V. Esta corrupção da natureza persiste, durante esta vida, naqueles que são regenerados; e, embora seja ela perdoada e mortificada por Cristo, todavia tanto ela, como os seus impulsos, são real e propriamente pecado.
Rom. 7:14, 17, 18, 21-23; Tiago 3-2; I João 1:8-10; Prov. 20:9; Ec. 7-20; Gal.5:17.
VI. Todo o pecado, tanto o original como o atual, sendo transgressão da justa lei de Deus e a ela contrária, torna, pela sua própria natureza, culpado o pecador e por essa culpa está ele sujeito à ira de Deus e à maldição da lei e, portanto, exposto à morte, com todas as misérias espirituais, temporais e eternas.
I João 3:4; Rom. 2: 15; Rom. 3:9, 19; Ef. 2:3; Gal. 3:10; Rom. 6:23; Ef. 6:18; Lam, 3:39; Mat. 25:41; II Tess. 1:9.
Emil Brunner, por exemplo, disse que um dos pecados mais graves é o orgulho. Acredito que devemos, porém, reconhecer o orgulho como sintoma de uma natureza caída.
Calvino define o pecado original como “uma depravação e corrupção hereditária de nossa natureza, difundida em todas as partes da alma, que primeiramente nos torna sujeitos à ira de Deus e depois também produz em nós aquelas obras que a Escritura chama de ‘obras da carne’” (Inst., 2.1.8).
ZÉ:
Exatamente.
[ ]'s
Zé
PÉRICLES:
Ué?
no fim no deu no mesmo do q agostinho disse?
CRISTIANO:
no fim no deu no mesmo do q agostinho disse?
Resposta: Segundo a teologia de Westminster e de Calvino, Agostinho não deu nenhuma "escorregada". A doutrina dele, a respeito da corrupção hereditária, do pecado original, foi claramente seguida.
Karl Barth, um dos maiores teólogos contemporâneos, é um dos que mais se assemelham a Agostinho ao tratar sobre a questão do pecado.
Segundo Barth, não existe um ponto de contato entre o evangelho e a humanidade pecadora.
Barth argumentou que o Espírito tem de criar esse ponto de contato para que possamos acreditar e obedecer. Afirmou a depravação total do homem. Acreditava que a natureza humana é tão degenerada que já não reflete a glória de Deus. Declarou que somos totalmente incapazes de nos aproximar de Deus por nossos próprios esforços.
A visão que Barth tinha sobre a humanidade caída o fez ampliar, ao máximo, o abismo que separa os homens de Deus.
MÁRCIA:
Isso sempre me intrigou: a semelhança dos mitos em todas as culturas.
Isso , por um tempo, me fez ver a bíblia como mais uma historia mitológica tentando desvendar o mistério da nossa origem e pra onde vamos.
Sei que isso é amplamente discutido aqui em vários tópicos, mas , se colocássemos nossa fé de lado, não seria a bíblia mais uma história que procura desvendar quem somos, de onde viemos e para onde vamos?
Quando leio sobre mitos, leio com o distanciamento de quem procura conhecer um pouco a história da humanidade.
Imagino que muitos também leem a bíblia dessa forma que, como outros mitos se aplica perfeitamente aos desejo do homem de conhecer a si próprio.
Me pergunto, o que é a fé, o que é verdade, o que me faz dar assim como um salto na escuridão e viver e e crer na história que ninguém pode garantir que seja real.
A fé é mesmo uma coisa absurda.
CRISTIANO:
A pessoa de Jesus Cristo é um evento histórico. Deus se manifestou corporalmente na dimensão espaço-temporal para nos libertar da triste situação de escravos do pecado.
Assim como os efeitos do pecado se manifestam dentro de um horizonte histórico, os eventos que ocasionaram o seu aparecimento devem, necessariamente, ter sido originados dentro dessa mesma dimensão e não numa realidade supra-histórica. Se o homem sofre aqui as consequências do pecado então o mal teve origem aqui mesmo. Se não fosse assim Jesus Cristo não teria a necessidade de se manifestar entre nós.
Por isso sempre pergunto quando, como e por quê aconteceu a queda. Essa pergunta exige o relato de fatos terrenos, factuais, relacionados à queda, seja lá qual for a interpretação que se dê ao termo "queda", com fundamentos evolucionários, psicológicos, etc.
Não ajuda muito dizer que o relato de Gênesis é um mito. Há mitos que não tem correlação alguma com a realidade, não procuram explicar nada a respeito da existência.
O pecado é real e para isso precisa de uma explicação (origem) real.
Também dizer que o pecado é ignorância, orgulho, maldade, etc., não ajuda muito, pois, teologicamente, essas deficiências são apenas sintomas da alma caída, e não causa. É através desses males que o homem percebe que é um ser caído.
Parabéns pelo blog, amado irmão
Tornei-me seguidor.
Gostyaria de convidá-lo a conhecer meu novo blog sobre teologia:
www.manejandobemapalavradaverdade.blogspot.com
Deus te abençoe!
Alan
Prezado Alan
Obrigado pela visita.
Com certeza vou visitar o seu blog também.
Graça e Paz