AUTOR: CRISTIANO SANTANA
Finalizando minhas ponderações sobre a possibilidade de o cristão ser evolucionista, quero dizer que a adesão à teoria evolucionista também tem efeitos sobre a Cristologia.
Vejam que Jesus se refere a Adão e Eva como os primeiros "homem e mulher" genuínos, tornando sua união física a base do casamento (Mateus 19:4-6)
Então, respondeu ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.
Pressupondo que o relato de Gênesis seja puramente mitológico, essa declaração de Jesus pode estar viciada das seguintes formas:
1 - Jesus não sabia sobre a carência da historicidade de Adão e Eva e, portanto, cometeu um equívoco. Há quem diga que Jesus, como humano, ignorava algumas coisas. Poderíamos até aceitar essa asserção. O que seria contraditório é admitir que Jesus fez uma declaração inverídica.
2 - Na verdade Jesus nunca fez essa declaração. Ela é fruto da chamada "comunidade criativa", hipótese criada pelos adeptos da "crítica da forma", isto é, a comunidade cristã primitiva colocou algumas palavras na boca de Jesus.
3 - Jesus, pela sua onisciência, sabia que Adão e Eva não eram personagens históricos. Ele apenas fez parecerem históricos para fins práticos, ou seja, para transmitir ensinamentos espirituais à mente limitada do povo de sua época. Tenho sérias restrições quanto a essa hipótese. Não consigo enxergar um Jesus que dissimula os fatos, pelo contrário, vejo um Jesus que acredita firmemente na autoridade das Escrituras a tal ponto de dizer que "As Escrituras não podem errar"; essa declaração de Jesus parece indicar que Jesus acreditava sinceramente na historicidade de Adão e Eva.
A permanência de Jesus como Filho de Deus depende de uma ponderação séria a respeito dos problemas acima citados. Como salvaremos a Cristologia?
Acho que a abordagem do problema acima deve ser extendida a outros escritores bíblicos que passsaram à posteridade a sua convicção pessoal de que Adão e Eva foram históricos.
--> A frase "essas são as gerações de" que Moisés usava para registrar as histórias posteriores em Gênesis (Gênesis 6:9; 10:1; 11:10, 27; 25:12, 19) aparece nas descrições da criação (2:4) e de Adão, Eva, e seus descendentes.
--> As posteriores cronologias do Velho Testamento situam Adão no começo da lista (Gênesis 5:1; 1 Crônicas 1:1).
--> O Novo Testamento coloca Adão no princípio dos literais ancestrais de Jesus (Lucas 2:38).
--> O livro de Romanos declara que a morte literal entrou no mundo por literalmente,"um só homem" - Adão (Romanos 5:12).
--> A comparação de Adão (o "primeiro Adão") com Cristo (o "último Adão"), em 1 Coríntios 15:45, denota que Adão foi considerado como uma pessoa real e histórica.
--> A declaração de Paulo que "primeiro foi formado Adão, depois Eva" (1 Timóteo 2:13-14) revela que ele fala de pessoas reais.
Pressupondo que a Teoria da Evolução seja verdadeira, acho que só nos restam duas hipóteses para as passagens acima:
1.Os escritores ignoravam o caráter mitológico de Gênesis
2.Os escritores sabiam do caráter mitológico mas não quiseram transparecer isso.
Concluo dizendo que, só sob a condição de se adotar a postura dos críticos liberais, assumindo que a Bíblia pode conter incongruências, é que é possível receber como verdade a teoria da evolução das espécies. Para que Darwin seja estabelecido como autoridade pelo cristão, é necessário dar as mãos a Rudolph Bultmman, a Barth, Welhausen e outros, e rejeitar o caráter inspirado das Escrituras. A única saída é dizer que as Escrituras "podem até contem a palavra de Deus", mas que elas "não são a Palavra de Deus".
Quanto ao cristão que quiser continuar atribuindo alguma autoridade e inspiração às Escrituras, eu não vejo outra saída: ele deve decidir entre a Palavra de Deus e Darwin.
Postar um comentário