Estou lendo o volume III da "História da Filosofia" de Giovanni Reale e Dario Antiseri. Kierkegaard é realmente um filósofo impressionante; mais do que isso: ele é um cristão impressionante. Difícil encontrar um homem como esse, que levou tão a sério a causa do cristianismo. Devido às suas profundas reflexões sobre o verdadeiro significado da vida cristã, ele foi chamado de "o poeta cristão.
Resolvi digitar as páginas 237 e 283 que trazem um belo resumo das idéias desse importante pensador cristão. Leiamos:
É ainda aí, na fé que relativiza todas as coisas humanas e que não pode ser reduzida à cultura, que Kierkegaard se lança à ruína, em violenta polêmica contra a cristandade de sua própria época. O bispo luterano Mynster - que, à renovação da vida cristã, como Kierkegaard a entendia, opôs a defesa da "ordem constituída" - morreu tranquilamente em fins de janeiro de 1854 e, homenageado por seu povo, foi celebrado por seu sucessor, Martensen, como "um elo da cadeia sagrada que liga entre si as testemunhas da verdade". Mas, em polêmica com Martensen, Kierkegaard se pergunta: "O bispo Mynster era testemunha da verdade, uma daquelas verdadeiras testemunhas: será isso verdade?"
A verdade, para Kierkegaard, era que não poderia ser celebrado como "testemunha da verdade quem viveu desfrutando a vida, ao abrigo dos sofrimentos, da luta interior, do medo e do temor, dos escrúpulos, das angústias da alma e das penas do espírito (...). A verdadeira testemunha da verdade é o homem que, na humildade e no rebaixamento, é desprezado, odiado, rejeitado, desconhecido, ironizado, que tem a preseguição como seu pão cotidiano e é tratado como resíduo. Será que foi essa a vida do bispo Mynster?"
A polêmica de Kierkegaard desenvolveu-se nos nove fascículos de "O Momento", de maio a setembro de 1855. Foi nela que ele consumiu suas últimas energias antes de ceder de repente e morrer em 11 de novembro desse mesmo ano. Alguns anos antes, Kierkegaard escrevera: "Mynster pensa provavelmente (e, habitualmente, isso é a modernidade) que cristianismo é cultura. Mas esse conceito de cultura é pelo menos inadequado e talvez até completamente oposto ao cristianismo quando se torna desfrutamento, refinamento e pura cultura humana".
Na opinião de Kierkegaard, o contraste entre cristianismo e cristandade estabelecida é claro: "O cristianismo é de uma seriedade tremenda: é nesta vida que se decide a tua eternidade (...). Ser cristão é sê-lo como espírito, é a inquietude mais elevada do espírito, é a impaciência da eternidade, é temor e tremor contínuo, aguçados pelo fato de encontrar-se neste mundo perverso que crucifica o amor e abalado de estremecimento pela prestaçao de contas final, quando o Senhor e Mestre retornará para julgar se os cristãos foram fiéis".
Entretanto, depois de mil e oitocentos anos de cristianismo, "tudo se tornou superficialidade na cristandade atual". E isso porque o cristianismo é visto como instrumento capaz de "facilitar sempre mais a vida, a temporalidade no sentido mais trivial". O que se quer é "viver tranquilo e atravessar o mundo em felicidade": essa é a razão por que "toda a cristandade é disfarce, mas o cristianismo não existe em absoluto". E Kierkegaard se escandaliza diante da realidade - para ele terrível - de que, entre as heresias e os cismas, não se encontra nunca a heresia mais sutil e mais cheia de perigos: a heresia que consiste em "brincar de cristianismo".
De certo modo, concordo com Kierkegaard. Acho que deveríamos levar o cristianismo mais a sério. Lembrarmos das palavras de Jesus: "Quem quiser vier após mim negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me."
Identifiquei-me muito com Kiekeggard. Não há um dia sequer na vida em que eu não sinta uma aflição interior gerada pela consciência de que vivo em um mundo perverso, de que sou um homem vivendo em um corpo de pecado, carente continuamente da graça de Deus. Quando ando pelas ruas e observo os seres humanos andando agitados, absorvidos em interesses mundanos, ávidos pela conquista da felicidade, porém totalmente desapercebidos quanto a seus destinos eternos, eu contemplo a vaidade humana. Isso também gera aflição e meu espírito geme, clamando logo pela redenção.
Na verdade, se nos fosse dada a faculdade de absorver mentalmente toda a essência do verdadeiro cristianismo, não ficaríamos mais tranquilos, nem por um minuto, em razão da reprodução constante da imagem da tragédia humana em nossos espíritos.
Caro Cristiano,
A paz do Senhor. Acredite que eu passei hoje pela manhã no seu blog para parabenizá-lo pelo excelente comentário feito no Divinatis Doctor, do Ednaldo, acerca do velho debate calvinismo x arminianismo. Acontece que, quando postava o meu comentário no seu blog, o computador travou e não pude fazê-lo. Enquanto fuçava no seu blog deparei com esse seu post “KIERKEGAARD: O "POETA CRISTÃO", que tem relação com o pensamento do Daniel Munduruku, postado no Sinergismo. Para minha surpresa recebo o seu valioso comentário tratando do tema.
Fico feliz por saber que vc também aprecia o existencialismo cristão do Kierkegaard, esse mestre que trata com tamanha maestria as questões relacionadas ao desespero humano. Aceite o meu convite para visitar o blog do kierkegaardiano Alex, meu irmão na fé e companheiro nas reflexões. O endereço é:
http://herdeirosdodeserto.blogspot.com/2008/11/kierkegaard-arriscar-viver.html
Um abraço,
Paulo Silvano
Paulo
Agradeço-lhe muito pela visita. Estou vivendo numa atmosfera espiritual mais elevada, depois que passei a verbalizar meus pensamentos nesse blog. O fato de passarmos muito tempo pensando sobre o próximo artigo a escrever nos manter em maior sintonia com Deus.
Depois de terminar a leitura da História da Filosofia, vou aprofundar-me nas obras de Kierkegaard.
Com certeza vou visitar o blog de nosso irmão Alex.
Abraços
Cristiano