Autor: CRISTIANO SANTANA
Durante uma determinada aula da Escola Bíblica Dominical, perguntei aos alunos se seria correto um cristão desejar ser rico. Surpreendentemente, todos levantaram as mãos dizendo que sim: não há nenhum problema quanto a um cristão desejar ser rico.
Ora, eram apenas alunos da EBD. Como eles estavam ali para aprender, tive a oportunidade de torná-los conscientes, biblicamente, sobre o grande perigo que corre aquele que resolve deixar crescer em seu coração esse desejo perverso por riquezas.
Terrível, porém, é constatar que essa visão tem como principal origem os púlpitos das igrejas, ocupados por líderes eclesiásticos, os quais propalam, em todas as direções, que a vontade de Deus é que acumulemos riquezas nesta vida, para a glória do Seu nome.
Não existe texto mais apropriado para refutar essa grande mentira do que 1Timóteo, versículos 5 a 10. Façamos, então, uma análise das sábias palavras do apóstolo Paulo.
"...supondo que a piedade é fonte de lucro"
Os falsos mestres supunham "que a piedade é um meio de ganho lucro financeiro". "Piedade" aqui significa a profissão de fé cristã e não a verdadeira vida santificada no poder do Espírito Santo. Eles usavam a profissão religiosa como um meio de ganhar dinheiro. O que eles faziam não era um verdadeiro ministério; era apenas um negócio financeiro religioso.1
É impressionante notar que já na era apostólica existiam homens que utilizavam o cristianismo somente para se promoverem financeiramente. Esse versículo não deixa de ter um caráter profético, pois se cumpre integralmente em nossa época, através dos chamados "mercenários da fé", homens inescrupulosos, que se enriqueceram às custas dos servos de Deus; moram em mansões, possuem carros importados e cobram milhares de reais para pregar numa única noite.
Sempre tive curiosidade em obter as respostas às seguintes perguntas:
-Quantas igrejas evangélicas existiriam, hoje, se o Evangelho não oferecesse nenhuma possibilidade de ganho financeiro?
-Quantos "avivalistas, "conferencistas", "articulistas", etc., estariam atualmente pregando Brasil a fora, totalmente comprometidos com o ide do Evangelho, se pregar fosse de graça?
-Quantos pastores teríamos, atualmente, cuidando fielmente das ovelhas do Senhor, se à semelhança do apóstolo Paulo, eles tivessem de construir tendas para sustento próprio?
Não tenho a resposta exata, em temos de números, mas sei que o número de igrejas, pregadores itinerantes e pastores seria muito menor.
"De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento."
A piedade não dá ganho financeiro. Ela própria é ganho, quando acompanhada pelo contentamento. Autarkeias (contentamento) literalmente significa "auto-suficiência". Contudo essa suficiência é devido a suficiência de Deus (2Cor 9:8; Fil 4:11.13). A piedade, combinada com aquela suficiência interior que é dada por Deus, que não depende das circunstâncias materiais, é verdadeiramente, o grande ganho.2
Realmente, o contentamento é uma dádiva que só é dada aos fiéis servos de Deus, que Dele dependem integralmente. A ambição por riquezas é como um buraco negro que não cessa a sua atividade enquanto não suga a tudo que estiver em sua área de influência; a ambição nunca descansa, sempre ávida por mais riquezas, por mais status. É uma sede que nunca termina. O contentamento que é negado a esses ambiciosos é uma verdadeira punição.
Há cristãos que dizem que só ficarão contentes quando tiverem uma casa maior, uma carro importado ou roupas de grife. Há, porém, cristãos que já vivem contentes, apesar das privações, isto porque já experimentam em suas vidas o contentamento pleno, a satisfação completa, concedida pelo Senhor, através do poder do Espírito Santo, o qual concede tudo que necessitam.
Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele.
Essas palavras nos fazem lembrar, quase que instantaneamente, as palavras do Jó: "Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR! "
Devemos estar conscientes da transitoriedade da vida, de nossa fragilidade e lembrar, sempre, que "para morrer basta estar vivo".
Quando analiso o comportamento das pessoas, fico espantado ao constatar que muitos vivem como se a morte não existisse. Elas vivem dopadas pela ilusão de que poderão usufruir dos bens que possuem, para sempre. Esses "cristãos" precisam tomar um choque de realidade e perceber que as riquezas podem ser eternas, mas eles não, antes que o próprio Senhor lhes diga: "Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?"
Tendo, porém, sustento (alimento) e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.
Essas palavras de Paulo, a princípio, parecem absurdas, pois só alimento e roupas não satisfazem completamente as necessidades do homem, que precisa de educação, casa, profissão, lazer, etc.
Temos de captar o sentido mais profundo dessa declaração de Paulo. Alimento e roupas apontam para aquilo que é básico; que é suficiente. Certamente não podemos elaborar uma listagem fixa das coisas que são básicas para a vida de cada cristão, mas podemos dizer, que cada cristão, guiado pelo Espírito, sabe quais são as coisas básicas, imprescindíveis para que o propósito específico de Deus seja concretizado em sua vida. Se eu sei que o propósito de Deus para a minha vida é ser pastor, posso crer que o básico para a minha vida será ter uma família bem constituída, uma instrução teológica, um carro para me deslocar, sabedoria para conduzir o povo de Deus, etc. Se eu sei que o propósito de Deus para a minha vida é que eu seja músico, terei, basicamente, de adquirir um instrumento, fazer aulas de música, etc.
O problema é que alguns cristãos querem transpor os limites daquilo que é básico e suficiente para suas vidas. Alimentam ambições que estão além de seus potenciais, sonham com coisas que absolutamente não trarão nenhum benefício para suas vidas espirituais, pensam escalar montanhas que os derrotarão antes de chegarem ao topo.
Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína.
Nota-se que a condenação não recai sobre o fato de ser rico, mas se dirige contra a vontade de ser rico.
As palavras são enfáticas e referem-se a pessoas que são determinadas a ficarem ricas; que fazem disso o objeto e o alvo de suas vidas. Elas vivem para conseguir dinheiro, para conseguir tudo que puderem e manter tudo que conseguirem. Elas não têm medo dos perigos pois buscam as riquezas através de meios honestos. Certamente o apóstolo não se referia àqueles que ficaram ricos através de roubo, sequestro, extorsão, etc.3
Esse tipo de pessoa cai em tentação e em cilada e se afoga na ruína e perdição, mesmo que achando que está agindo honestamente. Pensemos em tudo que Ló perdeu quando colocou seu olhos em Sodoma e Gomorra. Infelizmente a doutrina da prosperidade surgiu para alimentar ainda mais esse desejo irracional de sucesso. Não suporto assistir a programas televisivos de certas igrejas, nos quais são apresentados testemunhos de pessoas que, através da fé, consquistaram carros, empresas, barcos, mansões. Tenta-se convencer a todos que a riqueza é o sinal benção divina. Enojado, mudo logo de canal. Queria que esses pastores pregassem sobre prosperidade nos países pobres da Africa onde a fome, a doença, a miséria e guerra civil imperam.
É claro que Biblia tem vários exemplos de ricos servos de Deus, como por exemplo, Abraão, Isaque, Jáco e Jó. Devemos ressaltar, porém, que nenhum deles buscou a riqueza como meta final de suas vidas. As circunstâncias, o trabalho deles e a vontade de Deus concorreram para que eles acabassem ficando ricos. O fato de não podermos desejar ser ricos não significa que Deus não possa querer nos tornar ricos. A concretização dos planos de Deus na vida de alguns cristãos, por seu elevado propósito, às vezes exige a riqueza como condição, mas são casos pontuais e não pode ser erigida nenhuma doutrina de prosperidade baseada nesses casos específicos. Que Deus deseje que eu fique rico, mas não eu.
Porque o amor do dinheiro é raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.
Talvez seja melhor traduzir pantoon toon kakoon, como "de todos esses males"; isto é, os males enumerados acima; pois não pode ser verdade que o amor ao dinheiro seja a raiz de todos os males. Certamente o amor ao dinheiro não foi a raiz através da qual a transgressão de Adão se espalhou por toda a humanidade, mas é a raiz através da qual todos os males mencionados no versículo precedente brotam. Esse texto tem sido, muitas vezes, citado erronamente, pois frequentemente ouvimos: "o dinheiro é raiz de todos os males". O dinheiro não é a raiz de todos os males, nem é um mal em si; mas o amor ao dinheiro é a causa de todos os males mencionados aqui.4
Realmente o dinheiro é raiz de muitos males. Basta pensarmos que a maior parte dos dez mandamentos podem ser quebrados tendo como causa o amor ao dinheiro. Pelo dinheiro, matamos, adulteramos, damos falso testemunho, furtamos e cobiçamos. Quebramos, também, o primeiro mandamento quando transformamos o dinheiro no deus de nossas vidas.
Concluo, orando a Deus para que as mentes dos cristãos atuais sejam iluminadas pelas palavras poderosas das Sagradas Escrituras que é a única capaz de desmascarar as mentiras propagadas por Satanás, dentre elas, a infame Teologia da Prosperidade.
Bibliografia:
1 - The Bible Exposition Commentary
2-Bible Knowledge Commentary
3-Adam Clark Commentary
4-Jamieson, Fausset e Brown Commentary
Caro Pb. Cristiano Santana,
A Paz do Senhor!
Seu texto é excelente, pertinente e necessário para a Igreja deste tempo.
Essa ansiedade por riqueza, implantada pelas igrejas da moda, tira completamente o desejo pelas coisas espirituais, e pela salvação, que é o objetivo principal do evangelho.
Que o Senhor continue te dando graça para combater tais conradições dos tempos modernos.
Um grande abraço!
Pr. Carlos Roberto
Muito obrigado, Pastor, por suas palavras de incentivo. Lutemos pela fé que nos foi dada.
Irmão Cristiano,
Se fosse para ser missionário/pastor/pregador como Paulo foi será que os cobradores de altos cachés aceitariam? Gostei da forma como você aborda os assuntos, e também gostei do seu blog. Parabéns. Obrigado pela visita ao meu blog e por ter indicado o mesmo nos seus links.
Graça e Paz.
Irmão Juber Donizete
Também agradeço pela sua visita ao meu blog. Que Deus continue lhe inspirando a escrever artigos sempre edificantes.
Graça e Paz
A questão do dinheiro nas igrejas evangélicas e protestantes vem lá da Reforma com os calvinistas. O calvinismo nasceu com a burguesia assalariada. A fonte de dinheiro deles vinha diretamente do seu esforço no trabalho.E sendo o trabalho considerado uma dádiva para os calvinistas, então a recompensa do seu trabalho também seria.
O problema hoje é que as igrejas estão com uma mania de abençoar os ricos e fazendo "cultos para ganhar dinheiro". Meu Deus! Coitado de Jesus então, que nasceu pobre e morreu seminu, ele certamente, hoje, seria amaldiçoado e colocado em um desses cultos por aí.
Busquem a Deus em primeiro lugar. "Ama a Deus sobre todas as coisas" (dinheiro está muito bem incluso aqui). E não digo isso para o fiel dizimar, eu particularmente sou totalmente contra o dízimo. Ao invés, apoio a Oferta, que pode ser doada tanto em dinheiro quanto em trabalho voluntário.
Obrigado irmão Faustini, por sua colaboração.
Não foi à toa que Jesus expulsou os vendedores do templo.
Excelente texto, as riquezas em si não é pecado mas o amor ao dinheiro que é pecado. Se fosse pecado um cristão ser rico concerteza David Miranda, Apóstolo Valdomiro Santiago, RR Soares, Bispo Edir Macedo, todos estes líderes religiosos não entrariam no reino de Deus. O pior de tudo isto é um líder de igreja pregar contra as riquezas e ele mesmo ser rico, isto se chama hipocrisia.