Sempre que se fala sobre os atributos de Deus, a eternidade é um dos primeiros a serem lembrados. Mas, em que sentido Deus é eterno? Parece uma pergunta simples. Entretanto, não são poucos aqueles que são completamente ignorantes quanto ao seu significado e o profundos problemas que suscita.
OS DOIS SIGNIFICADOS FUNDAMENTAIS DE "ETERNIDADE" SEGUNDO A FILOSOFIA
1º Duração indefinida no tempo
2º Intemporalidade como contemporaneidade;
Platão contrapôs explícitamente os dois significados: "Da substância eterna dizemos erroneamente que era, que é e que será, mas na vedade só lhe cabe o que é, ao passo que o era e o será devem ser predicados apenas da geração que procede no tempo".
Aristóteles utilizou ambos os conceitos. Por um lado o mundo fora do qual não há espaço vazio, nem tempo, abrange toda a extensão do tempo e é eterno. Nesse sentido eternidade é duração. Por outro lado, as substâncias imóveis, motores dos céus, são eternas em outro sentido: no sentido de estarem fora do tempo. "Os entes eterno, porquanto eternos", diz Aristóteles, "naõ estão no tempo: não são abarcados pelo tempo nem por ele são medidos; o sinal disso é que eles não sofrem a ação do tempo, não estando no tempo".
O SIGNIFICADO BÍBLICO DA ETERNIDADE DIVINA
Evidentemente, de acordo com as Escrituras, Deus é eterno no segundo sentido, acima apontado, ou seja, Ele é atemporal.
"Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus" (Sl 90.2).
"Em tempos remotos, lançaste os fundamentos da terra; e os céus são obras das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permaneces; todos eles envelhecerão como uma veste, como roupa os mudarás, e serão mudados. Tu, porém, és sempre o mesmo, e teus anos jamais terão fim" (Sl 102:25-27).
"Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite" (Sl 90:4)
"Como ele é isento de todas as limitações do espaço, assim é ele exaltado acima de todas as limitações do tempo. Como ele não está mais em um lugar do que em outro, mas está igualmente presente em toda a parte, assim ele não existe por um período de duração mais que em outro. Para ele não há distinção alguma entre o prsente, o passado e o futuro; mas todas as coisas estão igual e perenemente presente para ele. Para ele, duração é um eterno agora. Deus é sem princípio de anos ou fim de dias. Ele existe, sempre existiu e sempre existirá; e, em segundo lugar, para ele não há passado nem futuro; o passado e o futuro estão sempre e igualmente presentes." (Teologia Sistemática - Charles Hodge)
PROBLEMAS ADVINDOS DO CONCEITO DE ETERNIDADE DIVINA
1) Se Deus está fora do tempo, isto é fora da duração, como Ele é capaz de agir na história sem se submeter às categorias do espaço e do tempo, já que toda ação tem um local e uma duração? Como seria essa passagem de Deus da dimensão atemporal para a dimensão espaço-temporal?
2) Se Deus está fora do tempo como explicar os termos "predestinação divina" e "livre-arbítrio"?
Predestinar significa determinar de antemão o destino de alguém. Ora, de acordo com o conceito de eternidade, já exposto, Deus não poderia fazer isso, visto que predestinar depende de uma decisão anterior, mas o "anterior" não pertence a Deus, visto que Ele é atemporal. Assim seria absurdo dizer que Deus predestina alguns para a salvação e outros para a perdição.
O livre-arbítrio também implica ação no tempo, pois através dele aprendemos que aquele que está salvo hoje, amanhã poderá estar condenado, caso venha a render-se ao pecado. Mas, se Deus é atemporal, como é possível que Ele faça uma comparação entre o que fomos ontem e o que somos hoje? Afinal de contas, para Ele não existe o "ontem", nem o "hoje", nem o "futuro". Ele simplesmente é?
3) Se Cristo era Deus encarnado, não há, nesse caso, uma prova de que um Deus atemporal decidiu habitar em um mundo dominado pelo espaço e tempo? Como foi possível essa transição?
Eu estava disposto a apresentar um solução para o problema, mas gostaria de saber se algum candidato estaria disposto a propô-la para mim. Alguém se habilita?
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