Por Cristiano Santana
Na semana passada eu estava cortando o cabelo, num certo estabelecimento, quando um dos clientes repetiu em alto som aquele antigo ditado: "política, futebol e religião não se discute".
Eu quis me conter, mas não consegui, tive de retrucá-lo. Seria previsível que eu quisesse discutir sobre religião, afinal de contas sou protestante; ou eu poderia estabelecer que é possível discutir sobre futebol, pois os jornalistas estavam debatando intensamente sobre a postura rude de Dunga durante as entrevistas.
Entretanto, o meu espírito se preparou para defender a tese de que é impossível alguém adotar um postura apolítica a ponto de achar que é contraproducente, inútil debater sobre assuntos políticos. Não pude concordar com a sua tentativa de nos convencer de que o comportamento mais sábio de um homem é não se posicionar sobre esse tema, que na sua ótica sempre lembra a podridão.
Eu disse a ele que a sua filosofia estava baseada em um equívoco precisamente sobre o sentido da palavra política. Lembrei-lhe que Aristóteles já dizia que o homem é um animal político. Que política deriva da palavra "polis" que naturalmente nos remete à antiga democracia grega, na qual todo cidadão livre participava das decisões que afetavam toda uma comunidade.
Afirmei, também que toda a nossa vida é influenciada pela política: o preço dos alimentos, os impostos, a aposentadoria, a segurança pública, a saúde, etc. Tudo isso resulta de atos do Poder Executivo que, por sua vez, governa através da regulamentação de leis oriundas do Poder Legislativo. Como não atentar para isso?
Pontuei que o cidadão deve ter pelo menos um consciência política para que, agregado ao restante do povo possa ter um poder de influência sobre a decisão dos políticos. Dei como exemplo a Lei da Ficha Limpa, que foi resultado de uma projeto de lei de iniciativa popular, com milhões de assinaturas de cidadãos comuns. Outro caso: O governo do Estado do Rio de Janeiro está querendo instalar um lixão em Seropédica. Os moradores estão mobilizados, coletando assinturas, pressionando vereadores e deputados para que isso não aconteça. Por acaso isso não é um posicionamento político? Perguntei àquele senhor "apolítico" se ele ficaria calado se morasse em Seropédica.
Há algum tempo atrás eu também tinha a opinião de que podia viver totalmente insensível quanto ao temas políticos, mas a cada dia que passa, percebo que não posso ficar indeferente quanto a decisões que afetam a vida de milhões de pessoas. Foi com essa mentalidade que o teólogo Karl Barth, por exemplo, se levantou contra a Alemanha nazista, correndo risco de vida por isso, enquanto que o Papa permaneceu inerte diante das atrocidades cometidas contra os judeus.
O se requer não é que todo cidadão seja político, mas que pelo menos tenha uma consciência política.
Para dar maior força ao meu argumento, achei um texto excelente que fala sobre a impossibilidade de ser apolítico. É um pouco extenso, mas vale a pena ler.
Só pode ser apolítico aquele que vive isolado da sociedade. Mesmo essa condição é ilusória, pois o próprio ato de abandonar a vida em sociedade já é um ato político. A palavra política deriva da palavra grega polis, cidade. Para os antigos gregos, a política era o ato dos homens livres no espaço público - a polis. Portanto, abandonar a polis já é fazer política.
Hoje, as pessoas parecem não compreender muito bem o significado de se fazer política. Há algumas semanas, houve um debate sobre uma possível mobilização pública em prol do município de Casa Branca. A iniciativa é boa, mas houve uma confusão quando a propositora disse que tal movimento deveria ser apolítico. Trata-se de um equívoco, pois a iniciativa de mobilizar pessoas a fim de alcançar um determinado objetivo no espaço público já é uma iniciativa política.
A confusão é compreensível. O que se quis dizer foi que um ato como esse deveria contar com a boa intenção dos cidadãos, para além dos interesses particulares e partidários de cada um. É uma preocupação legítima, principalmente em uma época em que assistimos diariamente a escândalos proporcionados por políticos profissionais. Mas uma ação pública, livre ou não de influências privadas, não deixa de ser política – não é apolítica. Na verdade, a pretensão de ser apolítica já é um problema político.
Ao contrário do que muita gente pensa, a confusão entre esferas pública e privada não é privilégio do Brasil. A confusão entre as duas esferas é um problema da época em vivemos, problema que teve origem na época moderna – um problema da própria modernidade. Nossa sociedade possui uma dinâmica diferente da dinâmica social dos gregos. Na verdade, o próprio conceito de sociedade não era conhecido pelos gregos – o conceito de sociedade é um conceito moderno, que engloba a esfera pública e a privada, assim como a relação entre elas.
Na época moderna, devemos ter clareza que qualquer ação na esfera pública terá conseqüências na esfera privada. Não é possível, em nossa sociedade, distinguir completamente entre as duas esferas, como pretendiam os gregos – pretensão decorrente dos limites da esfera pública – privilégio de poucos homens livres, ou seja, uma esfera pública que excluía mulheres, crianças, escravos, etc. Na Grécia antiga, só podia agir na esfera pública aquele que fosse senhor de sua esfera privada, podendo assim dedicar-se ao bem comum da polis – bem que só era comum a uma elite.
Nos dias de hoje, devemos perceber a relação entre as esferas pública e privada para compreender nossas próprias ações nos dois âmbitos. Isso é da maior importância, principalmente em um meio em que é comum o descaso em relação à coisa pública, o voto nuto, opção escolhida por pessoas que não percebem que mesmo a abstenção é um ato político, ainda que inconsciente. A opção de se resignar, de não participar, de se recolher à esfera privada e limitar-se a ações pragmáticas de finalidade egoísta, é uma opção carregada de conteúdo político, embora pervertido – na antiga Grécia essa era a opção dos chamados idiotas.
Não vivemos na Grécia antiga. Percebemos hoje que o espaço público e o espaço privado são interdependentes. Apesar disso, devemos ter clareza que ambos são espaços distintos, ainda que relacionados, e que devemos respeitar certos limites. A preocupação com a ação maléfica de certos atores sociais, que agem na esfera pública apenas em favor de seus interesses privados, é uma preocupação legítima. Mas isso não deve nos impedir de perceber a relação que sempre existirá entre interesses públicos e privados. Maquiavel nos ensinou sobre isso, e seus ensinamentos são importantes não como um guia de ação prática, mas como chaves para perceber o funcionamento da política. Não devemos ser pré-maquiavélicos, ingênuos.
A ingenuidade reside tanto na esperança da ação pública supostamente isenta de interesses privados quanto na ação pragmática da vida privada, que se volta para si, confiando em sua capacidade de superar as demandas sociais da esfera pública. Ambas sustentam a ação daqueles que utilizam seus conhecimentos para finalidades vis, que manipulam as relações sociais com base na descrença ou na esperança ingênua de pessoas bem intencionadas. A única ação possível contra essa malversação do espaço social é a ação que se pauta na consciência das relações sociais entre os espaços públicos e os espaços privados, sem ingenuidade utópica nem ceticismo apocalíptico, consciente que o bem comum é do interesse de todos. E, acima de tudo, que não tema assumir uma postura política, em sentido pleno, pois a ação que se pretende apolítica, que se propõe ideologicamente, neutra é por si mesma ideológica – neutralidade é ideologia. (João Mauro G. V. de Carvalho - Jornal Casa Branca OnLine)
Hoje, as pessoas parecem não compreender muito bem o significado de se fazer política. Há algumas semanas, houve um debate sobre uma possível mobilização pública em prol do município de Casa Branca. A iniciativa é boa, mas houve uma confusão quando a propositora disse que tal movimento deveria ser apolítico. Trata-se de um equívoco, pois a iniciativa de mobilizar pessoas a fim de alcançar um determinado objetivo no espaço público já é uma iniciativa política.
A confusão é compreensível. O que se quis dizer foi que um ato como esse deveria contar com a boa intenção dos cidadãos, para além dos interesses particulares e partidários de cada um. É uma preocupação legítima, principalmente em uma época em que assistimos diariamente a escândalos proporcionados por políticos profissionais. Mas uma ação pública, livre ou não de influências privadas, não deixa de ser política – não é apolítica. Na verdade, a pretensão de ser apolítica já é um problema político.
Ao contrário do que muita gente pensa, a confusão entre esferas pública e privada não é privilégio do Brasil. A confusão entre as duas esferas é um problema da época em vivemos, problema que teve origem na época moderna – um problema da própria modernidade. Nossa sociedade possui uma dinâmica diferente da dinâmica social dos gregos. Na verdade, o próprio conceito de sociedade não era conhecido pelos gregos – o conceito de sociedade é um conceito moderno, que engloba a esfera pública e a privada, assim como a relação entre elas.
Na época moderna, devemos ter clareza que qualquer ação na esfera pública terá conseqüências na esfera privada. Não é possível, em nossa sociedade, distinguir completamente entre as duas esferas, como pretendiam os gregos – pretensão decorrente dos limites da esfera pública – privilégio de poucos homens livres, ou seja, uma esfera pública que excluía mulheres, crianças, escravos, etc. Na Grécia antiga, só podia agir na esfera pública aquele que fosse senhor de sua esfera privada, podendo assim dedicar-se ao bem comum da polis – bem que só era comum a uma elite.
Nos dias de hoje, devemos perceber a relação entre as esferas pública e privada para compreender nossas próprias ações nos dois âmbitos. Isso é da maior importância, principalmente em um meio em que é comum o descaso em relação à coisa pública, o voto nuto, opção escolhida por pessoas que não percebem que mesmo a abstenção é um ato político, ainda que inconsciente. A opção de se resignar, de não participar, de se recolher à esfera privada e limitar-se a ações pragmáticas de finalidade egoísta, é uma opção carregada de conteúdo político, embora pervertido – na antiga Grécia essa era a opção dos chamados idiotas.
Não vivemos na Grécia antiga. Percebemos hoje que o espaço público e o espaço privado são interdependentes. Apesar disso, devemos ter clareza que ambos são espaços distintos, ainda que relacionados, e que devemos respeitar certos limites. A preocupação com a ação maléfica de certos atores sociais, que agem na esfera pública apenas em favor de seus interesses privados, é uma preocupação legítima. Mas isso não deve nos impedir de perceber a relação que sempre existirá entre interesses públicos e privados. Maquiavel nos ensinou sobre isso, e seus ensinamentos são importantes não como um guia de ação prática, mas como chaves para perceber o funcionamento da política. Não devemos ser pré-maquiavélicos, ingênuos.
A ingenuidade reside tanto na esperança da ação pública supostamente isenta de interesses privados quanto na ação pragmática da vida privada, que se volta para si, confiando em sua capacidade de superar as demandas sociais da esfera pública. Ambas sustentam a ação daqueles que utilizam seus conhecimentos para finalidades vis, que manipulam as relações sociais com base na descrença ou na esperança ingênua de pessoas bem intencionadas. A única ação possível contra essa malversação do espaço social é a ação que se pauta na consciência das relações sociais entre os espaços públicos e os espaços privados, sem ingenuidade utópica nem ceticismo apocalíptico, consciente que o bem comum é do interesse de todos. E, acima de tudo, que não tema assumir uma postura política, em sentido pleno, pois a ação que se pretende apolítica, que se propõe ideologicamente, neutra é por si mesma ideológica – neutralidade é ideologia. (João Mauro G. V. de Carvalho - Jornal Casa Branca OnLine)
Eu discuto tudo. Discuto religiao, politica e futebol, infelizmente nao entendo nada de nenhum dos tres assuntos - mas nao perco a oportiunidade!
www.inaier.blogspot.com
Cristiano concordo contigo que politica se discuti sim assim como fuetbol e religiao
Meu filho por exemplo torce para o palmeiras mas desde pequeno explico pra ele que nao exitem times sempre vencedores um dia estao na 1 divisao outro dia estao na segundona ou terceira ,e o ciclo se repete mas com relaçao a politica infelizmente nao voto em crentes, e diante do atual momento podre praticamente estamos sendo forçados a ficar totalmente incredulos ao tema
Por gentileza analise esses argumentos que achei ate interessantes!
http://wwwpicaretologos.blogspot.com/
Tudo é possível.