Por Cristiano Santana

Já conversei com vários cristãos que revelaram a sua frustração de não ter toda a sua família servindo ao Senhor. O estranho é que boa parte deles martizavam-se a si mesmos, pois, segundo eles, se Deus prometeu salvar toda a família daquele que aceita a Jesus e essa promessa não se concretiza, então há uma falha na vida daquele que tem a responsabilidade de levar todos os seus entes queridos à salvação.

A suposta promessa está em Atos 16:30-34

"Então, o carcereiro, tendo pedido uma luz, entrou precipitadamente e, trêmulo, prostrou-se diante de Paulo e Silas.Depois, trazendo-os para fora, disse: Senhores, que devo fazer para que seja salvo? Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa. E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa. Naquela mesma hora da noite, cuidando deles, lavou-lhes os vergões dos açoites. A seguir, foi ele batizado, e todos os seus. Então, levando-os para a sua própria casa, lhes pôs a mesa; e, com todos os seus, manifestava grande alegria, por terem crido em Deus."

Esse é mais uma exemplo de como o povo de Deus inventa crendices baseadas em erros interpretativos das Sagradas Escrituras.

Vamos demonstrar que é falsa a crença de que Deus prometeu salvar toda a família do crente fiel, através de uma análise do versículo acima e de uma abordagem sistemática do tema ao longo da Bíblia.

Interpretação de Atos 16:30-32

Limitamo-nos apenas a apresentar alguns comentários esclarecedores:

"A frase 'e tua casa' não significa que a fé do carcereiro iria automaticamente trazer salvação à sua família. Cada pecador precisa crer em Cristo pessoalmente para que possa nascer novamente. A frase significa "e a sua família será salva se eles também crerem". The Bible Exposition Commentary - Chariot Victor Publishing

"É nessa passagem que a tão conhecida 'salvação da família' é refutada. Crianças não podem ser salvas porque seus pais foram salvos, nem crianças ou filhos descrentes devem ser batizados. A promessa da salvação foi para toda a família do carcereiro; a pregação foi ouvida por toda a sua casa (v. 32); e toda a sua casa foi batizada (v.33); mas isso foi porque toda a sua casa creu (v.34) Wiersbe's Expository Outlines on the New Testament - Chariot Victor Publishing

"[e a tua casa] E a sua família. Isto é, a mesma salvação é oferecida a sua família. Isso não significa que a família seria salva simplesmente por causa da crença do carcereiro, mas que a oferta de salvação era dirigida a toda a família como também a ele mesmo; que eles poderiam ser salvos assim como ele. Ele foi lembrando de que toda a sua família precisava de salvação, e lhe asseguraram que eles podiam se juntar a ele na paz e alegria da misericórdia salvadora" Barnes' Notes - Biblesoft

Abordagem sistemática

"De quem foi filho Acaz, de quem foi filho Ezequias, de quem foi filho Manassés" (I Cron 3:13)

Temos aqui um exemplo de como pais justos podem gerar filhos injustos e vice-versa. O pai de Ezequias, Acaz foi conhecido como um mau rei, tendo cometido a abominação de oferecer seu próprio filho em sacrifício. O filho de Ezequias, Manassés, por sua vez, cometeu também terríveis abominações e ofereceu também seus filhos em sacrifício e só se arrependeu depois de muito ter sofrido. Ezequias, apesar do deslize com os mensageiros babilônicos, foi conhecido como um rei justo e que fez aquilo que era reto diante do Senhor. Deus lidou pessoalmente com cada um deles, sem levar em conta a justiça de seu ascendente ou descendente.

"A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai, a iniqüidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este" (Ezequiel 18:20)

Na época de Ezequiel muitas pessoas encontravam consolo diante das aflições que afetavam a nação de Israel, dizendo que aqueles acontecimentos eram resultado da ação de seus pais. Outros diziam que o verdadeiro castigo de Deus só ocorreria em um futuro mais distante. O profeta corrigiu essa inverdade dizendo que a responsabilidade diante de Deus é individual. Cada um iria colher o fruto de suas próprias ações. O pai não carregava a iniquidade do filho, nem o filho a iniquidade do pai.

"Aos mais digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não a abandone; e a mulher que tem marido incrédulo, e este consente em viver com ela, não deixe o marido. Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos. Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz. Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?" I Corintios 7:12-16

Paulo deixa claro aqui que não há garantia alguma de que o cônjugue descrente irá converte-se como resultado do bom testemunho do cônjugue crente. Em alguns casos o cônjugue crente terá de suportar essa servidão até à morte, a não ser que o descrente resolva abandoná-lo.

Isso não significa que o crente deva abandonar o seu dever de sempre dar bom testemunho em seu lar. Isso é um dever cristão. É bem provável que um dia seu cônjugue venha a crer por causa do seu bom procedimento (I Pe 3:1-2)

Nossos pastores poderiam conscientizar os crentes de que a conversão de nossos parentes é algo totalmente incerto, imprevisível. Há aqueles que dizem que Deus já prometeu que irá salvar um determinado parente. Não quero entrar nesse mérito, visto que diz respeito a casos específicos. Mas, com relação aos crentes em geral, seria bom que todos fossem mais realistas e não alimentassem muito uma esperança que um dia pode converter-se em total frustração. A salvação de nossos parentes é um assunto a ser decidido entre eles próprios e Deus. Nenhum homem pode intervir ou influenciar.