Por Cristiano Santana
A história é sempre a mesma. A cada eleição, milhares de evangélicos se candidatam a algum cargo político, e a promessa principal que eles fazem é que defenderão, com todas as suas forças, os interesses do povo de Deus. O problema é que o sistema representativo brasileiro, tal como se percebe, transforma o deputado em mandatário dos partidos e não dos seus eleitores. Não existe uma perfeita identidade entre a vontade do governante e do governado. A vontade popular encontra-se canalizada para os partidos políticos, munidos de vastos poderes de representação. Iludem-se aqueles que pensam que o vereador, deputado, senador, etc. desempenha o seu mandado com liberdade e perfeita autonomia. Todos eles têm de obedecer aos programas políticos de seus partidos, sob pena de serem punidos, ou até mesmo expulsos. O fato é que, quando pensamos que estamos votando no candidato, na verdade o nosso voto está indo para o partido, o qual detém efetivamente o poder.
Um escritor que descreveu com precisão essa usurpação do mandato pelo partidos é Paulo Bonavides, em seu livro "Ciência Política":
O Estado social consagra pois corajosamente a realidade partidária. Tanto na democracia como na ditadura, o partido político é hoje o poder institucionalizado das massas. Em verdade, todo o consentimento das massas, manifesto ou presumido, consoante a ordem política seja livre ou autoritária, há de circular sempre através de um órgão ou poder intermediário, onde corre porém o risco de alienar-se por inteiro. Esse órgão vem a ser o partido político.
Esse autor também aponta, de forma brilhante, a tendência que os partidos têm de trair a vontade do eleitor, para depois impor o que ele chama de "didatura invisível dos partidos":
No seio dos partidos forma-se logo mais uma vontade infiel e contraditória do sentimento da massa sufragante. Atraiçoadas por uma liderança portadora dessa vontade nova, estranha ao povo, alheia de seus interesses, testemunham as massas então a maior das tragédias políticas: o colossal logro de que caíram vítimas. Indefesas ficam e a democracia que elas cuidavam estar segura e incontrastavelmente em suas mãos, escapa-lhes como uma miragem.
A ditadura invisível dos partidos, já desvinculada do povo, estende-se por outro lado às casas legislativas, cuja representação, exercendo de fato um mandato imperativo, baqueia de todo dominada ou esmagada pela direção partidária. O partido onipotente, a esta altura, já não é o povo nem a sua vontade geral. Mas ínfima minoria que, tendo os postos de mando e os cordões com que guiar a ação política, desnaturou nesse processo de condução partidária toda a verdade democrática.
A disciplina política no interior dos partidos sobre o comportamento externo dos seus membros nas casas legislativas se vai tornando cada vez mais efetiva, com base numa legislação que entrega juridicamente o Estado aos partidos.
Conclui-se, portanto, que nenhum candidato é capaz de garantir que defenderá todos os interesses dos seus eleitores, sejam evangélicos ou não. Se eleito, ele não estará comprometido apenas com aqueles que lhe confiaram o mandato, mas também com a ideologia do seu partido. Assim, será obrigado a acompanhar as decisões partidárias e aceitar negociaçoes que se estabelecem nas casas legislativas, mesmo contra sua orientação ético-religiosa.
A vontade do político flutua junto com a vontade do partido. Isso justifica a constante apreensão que os evangélicos manifestam com relação a projetos de lei que tramitam no congresso, sobre temas como: aborto, homosexualidade, etc. Não é possível ter certeza de que, daqui a seis meses, o posicionamento da bancada evangélica será o mesmo quanto a essas matérias. Há o receio de que a opinião dos parlamentares evangélicos seja muito volátil, instável. Uma simples negociação entre os partidos, que contemple os interesses de ambos os lados, de repente pode fazê-los mudar de idéia, permitindo, consequentemente, a aprovação de leis imorais.
Finalizando, segue meu conselho. Se algum candidato disser que será o defensor inflexível dos interesses do povo evangélico, não confie muito nele.
Caro pr. Cristiano Santana,
A paz amado!
Estou sem condições de responder. Motivo estou sorrindo........ apesar da tristeza em meu coração.
Maior com a expectativa das novas heresias que virão via Gideões de Camboriú.
O SEnhor seja contigo,
O menor de todos os menores. Um Tradicional Pentecostal.com