Autor: Cristiano Santana
Desde a minha conversão, há vinte anos, me interessei pela Teologia, e digo que já li centenas de livros e artigos, desde então. Também tenho acumulado meu conhecimento, nessa área, graças ao abundante material publicado diariamente na blogosfera. Algo que me tem chamado a atenção, durante essa peregrinação intelectual, é a quase ausência de teólogos brasileiros de renome, cujas obras sejam um referencial nossos estudantes de teologia. O que mais se houve falar é de John Piper, John Stott, Mark Discroll, Rudolf Bultmann, Karl Barth, Pannenberg, Paul Tillich, Emil Brunner, Bonhoeffer, etc. Enquanto os teólogos estrangeiros são glorificados, podemos contar quase a dedo os teólogos brasileiros que tem alguma influência sobre o pensamento protestante brasileiro. É forçoso concluir, portanto, que a nossa teologia deixa muito a desejar. Desculpem-me pela minha opinião, pois pode ser que eu esteja errado, mas, para mim, a nossa Teologia ainda está lutando para sair do nível da mediocridade.
Por que a nossa teologia é medíocre? Após uma rápida reflexão pode enxergar alguns fatores que impedem o nosso progresso nessa área
OBSTÁCULOS AO PROGRESSO DA TEOLOGIA NO BRASIL
1) Formação de baixa qualidade: Não há dúvida de que existem excelentes universidades teológicas no Brasil, mas também é fato que essas são bem poucas. Elas normalmente têm vínculos com denominações históricas (Igreja Batista, Presbiteriana, Metodista, etc) e com instituições católicas como a PUC, por exemplo. Excetuando essas faculdades, a grande maioria dos cursos teológicos brasileiros estão aquém da qualidade de ensino exigida. Já conversei com "teológos" que parece que tiveram uma crise de amnésia. Desconhecem temas comuns que todo teólogo deveria saber. São teólogos só de carteirinha, sem a mínima vocação para construir uma visão teólogica e crítica do mundo. Depois que saem da faculdade não reciclam o conhecimento. Acham que o que aprenderam bastará por toda uma vida. Mais vergonhoso é saber que agora qualquer um consegue um diploma de teólogo, mestre e até doutor em divindade pela internet. Basta ter dinheiro no bolso. Eu não quero um diploma desse nem de graça. Se me derem queimo no fogo.
2) Anti-intelectualismo: O protestantismo brasileiro ainda sofre a influência do anti-intelectualismo cuja origem remonta, principalmente, às correntes pentecostais. Concordamos com Leonildo Silveira Campos, quando ele diz que o reavivamento espiritual norte-americano, posterior a Guerra da Secessão, era avesso ao intelectualismo, à teologia e às instituições teológicas formadoras de um clero esclarecido. Com isso a religião cristã tornava-se prática, colada aos problemas da vida cotidiana, aos quais procurava apresentar soluções espirituais. O pentecostalismo brasileiro herdaria esses e outros traços culturais norte-americanos. Daniel Berg e Gunnar Vingren trouxeram ao Brasil essa influência anti-intelectual e é fato que ela, de alguma forma tem perdurado até os dias de hoje. Grande parte dos crentes de várias denominações ainda alimentam certa desconfiança quanto aos estudos teológicos. Como os nossos teólogos progredirão em um ambiente assim?
3) Resistência do poder eclesiástico vigente: A maior parte dos teólogos formados nas universidades brasileiras retornam às suas igrejas. Infelizmente eles encontram uma dura realidade. Se quiserem ascender eclesiasticamente terão de aceitar a mordaça da censura. E quando resolvem manifestar-se contra aquilo que acham errado, são imediatamente "colocados na geladeira" sem oportunidade para dar sequer uma saudação na igreja. São proibidos até de dar aula na Escola Dominical. Assim, passam a carregar o estigma de crentes rebeldes. O pastor da igreja só vai incentivar esses teólogos até o ponto em que eles estiverem "rezando conforme a cartilha". Se sair da linha é punição certa. É por isso que teólogos como Caio Fábio criam seus próprios ministérios para que tenham o direito de expressarem abertamente o que pensam.
4) Falta de apoio das editoras: Hoje, as maiores editoras evangélicas são dirigidas por denominações ou convenções evangélicas. Temos a CPAD da CGADB, a Central Gospel do Silas Malafaia, a Betel da CONAMAD, a editora da Igreja Universal, da Igreja Internacional da Graça de Deus, etc. É natural que escritores ligados à alta cúpula dessas editoras tenham mais oportunidade para publicarem suas obras. Não quero dizer, com isso, que o que já foi publicado por eles, até agora, é de baixa qualidade. Existem excelentes obras disponíveis. Entretanto, tenho a impressão de que falta igual oportunidade para todos. Será que uma editora dessas avalia com isenção todos os manuscritos que recebem? Será que, nessa avaliação, consideram a importância da obra, antes da perspectiva de lucro? Outro grande obstáculo é que todas essas editoras tem o chamado "Conselho de Doutrina". É claro que não sou contra tal órgão. A sã doutrina deve ser preservada. Por outro lado, acho que existe uma certa tendência em não aprovarem obras que venham a criticar duramente certos aspectos do protestantismo brasileiro. Existe algo de herético em denunciar o que está errado? Pergunto então, que chances nossos teólogos têm de publicar suas obras? Quase nenhuma. Infelizmente, muitos deles têm de publicar seus livros de forma independente, com tiragens muitos limitadas, haja vista que suas idéias não são bem recebidas pelas poderosas editoras.
CONCLUSÃO:
Se alguém quiser ser um teólogo de projeção no Brasil e no exterior, com total liberdade de pensamento, são necessários esses requisitos:
1) Ter se formado em uma excelente universidade
2) Ter um ministério independente para que possa falar tudo que quiser, sem censura
3) Ter uma editora própria
4) Viver num contexto em que o conhecimento teológico seja valorizado (o que é difícil achar no Brasil)
Desde a minha conversão, há vinte anos, me interessei pela Teologia, e digo que já li centenas de livros e artigos, desde então. Também tenho acumulado meu conhecimento, nessa área, graças ao abundante material publicado diariamente na blogosfera. Algo que me tem chamado a atenção, durante essa peregrinação intelectual, é a quase ausência de teólogos brasileiros de renome, cujas obras sejam um referencial nossos estudantes de teologia. O que mais se houve falar é de John Piper, John Stott, Mark Discroll, Rudolf Bultmann, Karl Barth, Pannenberg, Paul Tillich, Emil Brunner, Bonhoeffer, etc. Enquanto os teólogos estrangeiros são glorificados, podemos contar quase a dedo os teólogos brasileiros que tem alguma influência sobre o pensamento protestante brasileiro. É forçoso concluir, portanto, que a nossa teologia deixa muito a desejar. Desculpem-me pela minha opinião, pois pode ser que eu esteja errado, mas, para mim, a nossa Teologia ainda está lutando para sair do nível da mediocridade.
Por que a nossa teologia é medíocre? Após uma rápida reflexão pode enxergar alguns fatores que impedem o nosso progresso nessa área
OBSTÁCULOS AO PROGRESSO DA TEOLOGIA NO BRASIL
1) Formação de baixa qualidade: Não há dúvida de que existem excelentes universidades teológicas no Brasil, mas também é fato que essas são bem poucas. Elas normalmente têm vínculos com denominações históricas (Igreja Batista, Presbiteriana, Metodista, etc) e com instituições católicas como a PUC, por exemplo. Excetuando essas faculdades, a grande maioria dos cursos teológicos brasileiros estão aquém da qualidade de ensino exigida. Já conversei com "teológos" que parece que tiveram uma crise de amnésia. Desconhecem temas comuns que todo teólogo deveria saber. São teólogos só de carteirinha, sem a mínima vocação para construir uma visão teólogica e crítica do mundo. Depois que saem da faculdade não reciclam o conhecimento. Acham que o que aprenderam bastará por toda uma vida. Mais vergonhoso é saber que agora qualquer um consegue um diploma de teólogo, mestre e até doutor em divindade pela internet. Basta ter dinheiro no bolso. Eu não quero um diploma desse nem de graça. Se me derem queimo no fogo.
2) Anti-intelectualismo: O protestantismo brasileiro ainda sofre a influência do anti-intelectualismo cuja origem remonta, principalmente, às correntes pentecostais. Concordamos com Leonildo Silveira Campos, quando ele diz que o reavivamento espiritual norte-americano, posterior a Guerra da Secessão, era avesso ao intelectualismo, à teologia e às instituições teológicas formadoras de um clero esclarecido. Com isso a religião cristã tornava-se prática, colada aos problemas da vida cotidiana, aos quais procurava apresentar soluções espirituais. O pentecostalismo brasileiro herdaria esses e outros traços culturais norte-americanos. Daniel Berg e Gunnar Vingren trouxeram ao Brasil essa influência anti-intelectual e é fato que ela, de alguma forma tem perdurado até os dias de hoje. Grande parte dos crentes de várias denominações ainda alimentam certa desconfiança quanto aos estudos teológicos. Como os nossos teólogos progredirão em um ambiente assim?
3) Resistência do poder eclesiástico vigente: A maior parte dos teólogos formados nas universidades brasileiras retornam às suas igrejas. Infelizmente eles encontram uma dura realidade. Se quiserem ascender eclesiasticamente terão de aceitar a mordaça da censura. E quando resolvem manifestar-se contra aquilo que acham errado, são imediatamente "colocados na geladeira" sem oportunidade para dar sequer uma saudação na igreja. São proibidos até de dar aula na Escola Dominical. Assim, passam a carregar o estigma de crentes rebeldes. O pastor da igreja só vai incentivar esses teólogos até o ponto em que eles estiverem "rezando conforme a cartilha". Se sair da linha é punição certa. É por isso que teólogos como Caio Fábio criam seus próprios ministérios para que tenham o direito de expressarem abertamente o que pensam.
4) Falta de apoio das editoras: Hoje, as maiores editoras evangélicas são dirigidas por denominações ou convenções evangélicas. Temos a CPAD da CGADB, a Central Gospel do Silas Malafaia, a Betel da CONAMAD, a editora da Igreja Universal, da Igreja Internacional da Graça de Deus, etc. É natural que escritores ligados à alta cúpula dessas editoras tenham mais oportunidade para publicarem suas obras. Não quero dizer, com isso, que o que já foi publicado por eles, até agora, é de baixa qualidade. Existem excelentes obras disponíveis. Entretanto, tenho a impressão de que falta igual oportunidade para todos. Será que uma editora dessas avalia com isenção todos os manuscritos que recebem? Será que, nessa avaliação, consideram a importância da obra, antes da perspectiva de lucro? Outro grande obstáculo é que todas essas editoras tem o chamado "Conselho de Doutrina". É claro que não sou contra tal órgão. A sã doutrina deve ser preservada. Por outro lado, acho que existe uma certa tendência em não aprovarem obras que venham a criticar duramente certos aspectos do protestantismo brasileiro. Existe algo de herético em denunciar o que está errado? Pergunto então, que chances nossos teólogos têm de publicar suas obras? Quase nenhuma. Infelizmente, muitos deles têm de publicar seus livros de forma independente, com tiragens muitos limitadas, haja vista que suas idéias não são bem recebidas pelas poderosas editoras.
CONCLUSÃO:
Se alguém quiser ser um teólogo de projeção no Brasil e no exterior, com total liberdade de pensamento, são necessários esses requisitos:
1) Ter se formado em uma excelente universidade
2) Ter um ministério independente para que possa falar tudo que quiser, sem censura
3) Ter uma editora própria
4) Viver num contexto em que o conhecimento teológico seja valorizado (o que é difícil achar no Brasil)
Bem, enquanto a Teologia não tem chances por aqui, vamos continuar ouvindo Piper, Stott, Driscroll, etc.
Postar um comentário