Autor: Cristiano Santana
Em virtude do teor desta carta, é bem possível que alguém reaja dizendo: “Como esse obreiro ousa imiscuir-se em assuntos que não são de sua competência?”.
Digo, primeiramente, que reconheço a minha insignificância. Eu não poderia sequer ter a pretensão de dar lições sobre o tema que pretendo desenvolver nesta carta, pelo simples fato de não estar credenciado nem espiritualmente, nem academicamente para tal fim. A única coisa de que me glorio é o fato de ter sido chamado e regenerado pelo Senhor Jesus Cristo há quase vinte anos atrás. Seria o cúmulo da insensatez desejar confrontar pastores experimentados com palavras artificialmente floreadas de erudição. Por que eu cometeria a loucura de querer exibir sabedoria diante de homens formados pela universidade da vida?
Em segundo lugar, não estou me intrometendo naquilo que não me diz respeito. Os fatos que abordarei têm intensos reflexos sobre a minha vida cristã, contribuindo ou não para o meu crescimento espiritual. Não sou profeta, mestre em eclesiologia, reformador a “la Lutero”, ou coisa parecida. Sou apenas um cristão que sonha com uma igreja cada vez melhor.
Por último, estou apenas exercendo o direito de expressar minhas opiniões, tanto como membro de uma associação religiosa, em conformidade com disposições estatutárias e regimentais, mas também como cidadão, de acordo com a garantia constitucional de liberdade de expressão e de pensamento.
Outrossim, venho encorajado pelas sábias palavras do saudoso pastor Alcebíades Pereira Vasconcelos (1914-1988), um dos maiores líderes das história das Assembléias de Deus: “No nosso entender, a igreja cristã biblicamente entendida, governa-se a si mesma, mediante o sistema democrático em que todos os seus membros livremente podem e devem ouvir e ser ouvidos, votar e ser votados, conforme a sua capacidade pessoal de servir. (...) A igreja cristã, à luz do Novo Testamento, é uma democracia perfeita.” (Jornal Mensageiro da Paz, nº 10, de 1959, pág. 4, citado pelo Dicionário do Movimento Pentecostal, edições CPAD). Fonte de inspiração para essa empreitada também é a Palavra de Deus: “Quando não há sábia direção, o povo cai; mas na multidão de conselheiros há segurança.” Provérbios 11:14)
Concluídas minhas palavras introdutórias, informo que a finalidade desta carta é APRESENTAR IDÉIAS que visam contribuir para o aperfeiçoamento do governo eclesiástico da Assembléia de Deus, especificamente no que tange à: 1) sua cultura organizacional e tipos de dirigentes de congregação; 2) ao controle e avaliação do desempenho dos dirigentes das congregações, e 3) no que concerne à necessidade de a igreja contextualizar-se diante dos desafios da modernidade.
Estou persuadido de que o modelo organizacional da Assembléia de Deus, embora bem-sucedido em vários aspectos, em outros sofre de imperfeições que podem repercutir diretamente na vida das congregações, gerando comunidades que não crescem nem quantitativamente nem qualitativamente, caso não sejam tomadas medidas saneadoras. É bem possível que uma igreja experimente apenas um crescimento qualitativo. Isso não é de todo ruim, já que uma igreja que aparenta ser saudável, por ter muitos membros, pode estar, na verdade, apenas “inchada” de uma multidão de pessoas que não têm verdadeiro compromisso com o Evangelho do Senhor Jesus Cristo. Quando, porém, a congregação, além de contar com poucos membros, não têm qualidades distintivas como dinamismo, companheirismo, liderança, amor, projetos, sinergia e outras características indispensáveis, nesse caso estamos diante de uma tragédia espiritual. Tratemos dos pontos que, na minha humilde opinião, precisam ser aperfeiçoados para que a Assembléia de Deus experimente maior crescimento e evite o triste quadro, acima descrito.
DA CULTURA ORGANIZACIONAL E DOS TIPOS DE DIRIGENTES
Cultura organizacional pode ser definida como “o conjunto de valores, crenças e padrões de comportamento que forma o núcleo de identidade de uma organização”. Os valores, por sua vez, são “os princípios e qualidades que são intrinsecamente desejáveis a nós. São ideais abstratos que dão forma a nosso pensamento e comportamento. Os valores podem ser classificados como: (1) valores instrumentais, que são crenças duradouras de que certo comportamento é sempre adequado e (2) valores terminais, que são crenças de que vale a pena procurar atingir certos objetivos.
Feita a definição, surge a pergunta inevitável: quais são os VALORES que regem a Assembléia de Deus enquanto organização, enquanto instituição e que servem como parâmetros básicos que possam orientar o trabalho pastoral e administrativo dos dirigentes das congregações? Qual é a linha de pensamento que deve nortear a mentalidade de nossos obreiros? Não me refiro necessariamente a dogmas teológicos que formam a confissão de fé que é expressa e indiscutivelmente defendida por todos nós. Refiro-me a princípios éticos, relacionais, pastorais e administrativos que, uma vez elaborados, difundidos e incentivados pela igreja-matriz, venham a gerar uma identidade, uma essência, enfim, uma cultura organizacional que sobreviva às constantes mudanças de dirigentes e que permeie as atividades de cada congregação. Por que os crentes assembleianos ficam apreensivos, ansiosos e até com medo quando ouvem rumores de que o dirigente será substituído? Evidentemente, eles sabem que há uma diferença enorme entre os dirigentes naquilo que cada um deles entende como sendo a forma certa de pastorear e administrar uma congregação. Enquanto um é democrático e delega, o outro é autocrático e centralizador. Um é aberto a opiniões, outro não. Aquele está em sintonia com visões modernas, este está preso a valores arcaicos. Enquanto um estabelece projetos e metas, outro “empurra a obra com a barriga”.
Porque o perfil desses dirigentes é tão diversificado? Tão heterogêneo? Algumas pessoas poderiam dizer que essa diversidade de mentalidades se deve ao temperamento peculiar de cada um deles. Discordo! Receio que faltem valores que possam moldar o ministério pastoral, de acordo com um paradigma estabelecido. Pergunto a você que é pastor presidente: A que tipo de dirigente de congregação você apóia? O centralizador ou que gosta de delegar? O que gosta da participação da igreja no processo de decisões ou aquele que sempre decide sozinho? É preciso que se decida a favor de um desses tipos e que sejam tomadas medidas para coibir atitudes contrárias ao padrão que for aprovado.
A idéia da cultura organizacional não visa transformar cada congregação numa espécie de franquia do Mc’Donalds, em que o dono de cada loja é obrigado a utilizar, rigorosamente, as máquinas e os métodos fornecidos pelos donos da marca. É claro que o dirigente da congregação precisa de certa liberdade. O objetivo, aqui, na verdade é tornar realidade um conceito apresentado pelo próprio apóstolo Paulo: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e nos mesmo parecer.”( I Coríntios 1:10 ). Os nossos dirigentes devem ter o mesmo parecer; devem ter a mesma disposição mental. Enfim, eles devem falar a mesma coisa quando surgir a pergunta: “como pastorar uma congregação?”.
Agora, se um responde que a congregação deve ser pastoreada com “chicote e jiló” e o outro diz que deve ser através do diálogo, temos uma evidência clara de que falta essa tão valiosa cultura organizacional que force todos a pensar da mesma forma.
Creio que a falta dessa mentalidade comum seja a causa dos choques que ocorrem quando dirigentes são substituídos. O novo dirigente entra dizendo que “fulano trabalhava de um jeito, mas eu trabalho de outra forma”. Então, abruptamente desmonta, destrói toda uma engrenagem funcional, todo um sistema de rotinas, todo um edifício de valores construído com dificuldade ao longo dos anos, sem ouvir a opinião de ninguém. Se ambos - o dirigente que sai e o que entra – obedecessem aos mesmos princípios pastorais e administrativos, haveria a substituição do dirigente e os membros da congregação não iriam notar quase nenhuma diferença, porque o mesmo padrão de gestão seria seguido.
Precisamos dessa cultura organizacional. E acredito que o melhor ponto de partida para construir essa cultura é estudar o modelo das congregações que mais crescem em um determinado “campo” e extrair as idéias que deram certo nelas e aplicá-las em outras congregações, afinal de contas, há um consenso de que aquilo que funciona bem deve ser imitado. O estatuto e o regimento interno também seriam úteis para esse fim.
(continua...)
Este comentário foi removido pelo autor.
É meu irmão Cristiano, tá dificil e parece que vai ficando cada vez pior.
Achei interessante a citação do Pr. Alcebíades, presidente da CGADB em 1988, ano de sua morte. Foi meu professor no seminario (ibadam) em Manaus no ano anterior, a materia era Pentateuco. Excelente pastor, muito equilibrado, coerente, com uma visão excelente do Reino de Deus. E parecia sentir sua partida, tanto que preparou o Pr. Samuel Camara para assumir o campo de Manaus, mesmo sendo na epoca o mais jovem pastor da sede. Perdemos um grande lider, mas ganhamos com seus feitos e exemplo de ministerio.
Prezado Gilson.
Quando eu li essas palavras do pr. Alcebíades, pela primeira vez, fiquei emocionado. Percebi o quanto o modelo congregacional era valorizado naquele tempo, em que a igreja efetivamente participava das decisões. Infelizmente o modelo episcopal é o que predomina atualmente.
Um grande abraço.
Prezado Gilson
Quando, pela primeira vez, li essas palavras do pr. Alcebíades, confesso que me emocionei. Percebi o quando o modelo congregacional era predominante naquele tempo em que a igreja participava mais das decisões. Hoje, infelizmente, o que o modelo dominante é o episcopal.
Um grande abraço
Irmão Cristiano,
Que bom que voltou a blogar! Também fiz uma matéria recente sobre a forma de governo da AD.
Abraço.
Amado Juber
Espero prosseguir meu trabalho no blog a partir de agora. Obrigado palavras incentivadoras. Um grande abraço
é bom ter o irmão nos ajudando a entender a palavra da biblia na sua essençia,pois assim aprenderemos como foi aguele tempo de cristo,onde ele nasçeu e seus apostolo pregou a sua palavra e tambem conhecemos como era o apostolo sera sabio ou calmo ou nervoso diante das pessoas.obrigado irmão por nos ajudar a conhecer a palavra de Deus e dos a vida dos apostolo.
Interessante...