Por Cristiano Santana
Ao contrário do que pensam, a santificação não é resultado de uma submissão passiva do crente à ação do Espírito. Ela é resultado da cooperação do Espírito e da disposição do homem de pôr a virtude como hábito em sua vida.
A conduta da cristandade atual tem sido orientada por várias noções equivocadas do conceito de santificação. O que há em comum entre todas elas é a tendência de tirar a responsabilidade do homem ou pô-la excessivamente sobre ele. Primeiramente existe a crença determinista de que Deus direciona cada ação do homem, como se ele fosse um mero autômato, completamente destituído de vontade própria. O cristão nesse caso seria como uma espécie de software programado por Deus para executar ações cada vez mais sofisticadas ao longo do tempo. Também há a corrente que defende a tese de que o crente se santifica quando tem sucessivas experiências místicas com Deus. Outra abordagem identifica a santificação com práticas legalistas, fundadas nos costumes. Semelhantes a essas, poderíamos continuar citando várias outras noções anômalas do processo de santificação.
Na verdade, a palavra chave da santificação é "hábito". O homem virtuoso não se faz da noite para o dia. A excelência da virtude moral e espiritual só se alcança com anos de exercício contínuo de atos de prudência, justiça, fortaleza, temperança, bondade, etc. Há de se concordar com Aristóteles, quando diz em sua "Ética a Nicômaco" que a virtude pode até existir em potência, mas precisa ser desenvolvida. Sendo assim, entendo que o Espírito Santo oferece as condições para a santificação, mas é o homem que tem de agir de acordo com o padrão ético estabelecido por Deus. A justiça como um valor ético se desvela em nossos atos. Acompanhando, novamente, as palavra do filósofo, "toda virtude e toda técnica nascem e se desenvolvem pelo exercício".
Para não ficarmos apenas na filosofia, leiamos portanto o que o apóstolo João escreveu sobre a importância da prática da justiça:
"Se sabeis que ele é justo, reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele." - I Jo 2:29
"Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo." - I Jo 3:7
"Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão." - I Jo 3:10
Finalizando, podemos afirmar que santificação é hábito, é prática, não de meros costumes, ou de mandamentos legalistas, mas de atos de justiça voltados para o próximo e não para nós mesmos. Se Deus nos reputou como justos através do sangue de Jesus, Ele nos considerará como verdadeiramente santos apenas se constatar em nossas vidas a existência de um padrão contínuo de ações justas ao longo do tempo: cumprir as obrigações, pegar emprestado e devolver, ajudar ao pobre, detestar a mentira, sustentar a família, cumprir com os deveres cívicos, não cometer pecados sexuais, etc.
A santificação é um longo caminho de erros e acertos, até mesmo de quedas, mas o resultado final é sempre excelente. O crente persistente aprenderá com cada um de seus erros, e se aperfeiçoará cada vez mais na prática da justiça. O Espírito quer cooperar conosco ao longo de nossos anos, mas nós precisamos decidir adotar a virtude como um hábito diário.
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