Vez ou outra, ouço obreiros ensinando que depois que a Igreja for arrebatada o Espírito Santo será tirado da terra. Consequentemente, os homens lerão a Bíblia mais não entenderão e que quem quiser ser salvo, naquela situação, deverá ser por esforço próprio.
Tenho sérias objeções contra essa teoria. Irei listá-las abaixo e, em seguida, desenvolvê-las.
1- Se o Espírito Santo deixasse de estar em algum lugar, em algum momento, ele perderia o seu atributo de onipresença. Logo deixaria de ser Deus.
2- O ministério do Espírito Santo demonstra uma continuidade através de toda a história. A única diferença são os seus modos de operação.
3- Há vários fundamentos bíblicos para se acreditar que, em conformidade com os textos escatológicos, o Espírito Santo continuará exercendo forte influência sobre os homens, mesmo nos capítulos mais terríveis da história universal.
DESENVOLVIMENTO
1- Se o Espírito Santo deixasse de estar em algum lugar, em algum momento, ele perderia o seu atributo de onipresença. Logo deixaria de ser Deus.
Assim diz o Credo Atanasiano:
E a fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as pessoas e sem dividir a substância.
Pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo;
Mas uma só é a divindade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade.
Qual o Pai, tal o Filho, tal também o Espírito Santo.
Incriado é o Pai, incriado o Filho, incriado o Espírito Santo.
Imenso é o Pai, imenso o Filho, imenso o Espírito Santo.
Eterno o Pai, eterno o Filho, eterno o Espírito Santo;
Contudo, não são três eternos, mas um único eterno;
Como não há três incriados, nem três imensos, porém um só incriado e um só imenso.
Da mesma forma, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente;
Contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente.
Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus;
E todavia, não há três Deuses, porém um único Deus.
Esse Credo foi amplamente aceito pela teologia protestante. Lutero o considerou "a maior produção da igreja desde os tempos dos apóstolos". Nele se percebe o reconhecimento de que o Espírito Santo também possui todos os atributos da Divindade, sendo, portanto, Deus. Dessa forma, é necessário que a onipresença, que é um atributo divino, também pertença à essência do Espírito Santo, sob pena de Ele deixar de ser Deus.
Então, aqueles que afirmam que o Espírito Santo vai sair da terra contrariam completamente a doutrina da Trindade. O Espírito Santo é um Ser espiritual para quem os parâmetros de tempo e espaço não significam a mesma coisa que para nós. Ele preenche toda a realidade e sempre estará em todos os lugares ao mesmo tempo.
2- O ministério do Espírito Santo demonstra uma continuidade através de toda a história. A única diferença são os seus modos de operação.
Muitos cristãos, baseados nas passagem de João 7:39, João 16:7 e atos 1:4-8, sugerem que houve uma descontinuidade do ministério do Espírito Santo ao longo da história. Eles vêem, por exemplo, o Espírito Santo como um membro um tanto inativo da Trindade através do Antigo Testamento e por isso supõem que Ele ficará inativo novamente. Vejamos os versículos:
João 7:39: "Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado."
João 16:7: "Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. "
Atos 1:4,5: "E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias."
Se fizermos, porém, uma análise mais abrangente, verificaremos que há outros textos que apontam uma continuidade do ministério do Espírito Santo, que confirma sua constante influência no desenrolar da história bíblica.
Conforme afirma Henry A. Virkler "há diversas passagens que falam de um ativo ministério do Espírito Santo no Antigo Testamento. Por exemplo, ele habitou entre os israelitas nos dias de Moisés (Isaías 63:10-14); habitou em JOsúe (Números 27:18); deu poder a Otniel e o guiou (Juízes 3:10); concedeu capacidade a artífices (Êxodo 31:1-6). O Espírito Santo dotou de poder a Sansão (Juízes 13:25; 14:6; 15:14); impeliu o rei Saul a profetizar (1 Samuel 10:9-10); habitou em Davi (Salm 51:11). Todos os profetas (escritores) do Antigo Testamento profetizaram como o fizeram por causa da energia recebida do Espírito Santo (1 Pedro 1:10-12; 2 Pedro 1:21). Ele habitou entre os israelitas que retornaram do cativeiro em Babilônia (Ageu 2:5).
Há diversas referências à atividade do Espírito Santo antes do Pentecostes também no Novo Testamento. João Batista foi cheio do Espírito desde o ventre materno (Lucas 1:15). Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo, resultando na profecia registrada em Lucas 1:67-69. O Espírito Santo estava em Simeão (o tempo do verbo implica continuidade), inspirando-o a profetizar quando tomou nos braços o menino) Jesus (Lucas 2:25-27). Jesus disse aos apóstolo, na última ceia, que eles conheciam o Espírito Santo, porque Ele já habitava com eles (João 14:17). Em uma de suas aparições pós-ressurreição antes do Pentecoste, Jesus outorgou o Espírito Santo aos apóstolos (João 20:22)" 1
A saída para essa aparente contradição é assumir que o significado de "vir" e "ir", quando aplicado a Deus, tem não nenhuma significação espacial e temporal, pois Deus é Espírito.
Continua Virkler:
"Portanto, quando Cristo ordenou aos apóstolos que esperassem a descida do Espírito Santo, podemos entendê-lo como ordem para esperar uma manifestação especial da presença do Espírito Santo, manifestação que os dotaria de poder a fim de iniciar o programa missionário para esta era. (Batizá-los e descer sobre eles são empregados como sinônimos neste caso: Atos 1:5,8)
Esse entendimento da palavra descer também nos ajuda a conciliar as passagens que indicam que os discípulos já haviam recebido o Espírito santo (João 20:22) com o fato de que eles ainda deviam esperar a descida do Espírito. Eles ainda deviam esperar por uma manifestação especial de sua presença que os transformaria de discípulos medrosos em apóstolos corajosos, muito embora ele já estivesse presente em suas vidas."
Desse modo, cometemos um grande equívoco quando pensamos que o Espírito Santo só se manifestou efetivamente no dia de Pentecostes e que anteriormente esteve meio escondido dos homens. As citações já apresentadas são suficientes para comprovar que o Espírito foi o agente que possibilitou a concretização do plano divino, através do séculos, capacitando os grandes personagens bíblicos.
3- Há vários fundamentos bíblicos para se acreditar que, em conformidade com os textos escatológicos, o Espírito Santo continuará exercendo forte influência sobre os homens, mesmo nos capítulos mais terríveis da história universal.
Não quero abordar os pormenores da Escatologia e as divergências que existem em torno de sua interpretação. Independentemente de se assumir uma postura pré-milenarista, amilenarista ou pós-milenarista os textos apocalípticos evidenciam, implícitamente, a necessidade da operação do Espírito Santo no tempo do fim:
-As duas testemunhas (Capítulo 11): Há alguns que dizem que as duas testemunhas são Enoque e Elias. Uns dizem que são Moisés e Elias. Outros, que são o Antigo e o Novo Testamento. Finalmente, um último grupo diz que as duas testemunhas apontam para o testemunho da Igreja. Independentemente de quem sejam, certamente o ministério dessas testemunhas dependerá de um poder especial outorgado por Cristo, através do Espírito Santo.
-Apocalipse 7:14: "Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro,razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo"
Incorreríamos em uma grande heresia caso disséssemos que essa grande multidão, oriunda da grande tribulação, herdará a vida eterna por mérito próprio. O fato de essas pessoas terem alvejado suas vestidudas no sangue do Cordeiro indica a graça de Deus, e sabemos que essa graça só é possível através da instrumentalidade do Espírito Santo "que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo".
Existem outros textos bíblicos que corroboram a asserção de que o Espírito Santo é um dos elementos centrais dentro da Escatologia, mas acredito que os acima apresentados já sejam suficientes para esse propósito.
CONCLUSÃO:
De acordo com o exposto, há várias e sólidas razões para rejeitarmos essa crença tão difundida entre os pentecostais, sobre a descontinuidade da ação do Espírito Santo, tão vinculada à teoria das dispensações. Os argumentos mostram que o Espírito Santo sempre foi, é e será, eternamente, o Ser ativo e operante da Trindade.
Bibliografia:
1-Henry A. Virkler - Princípios e Processos de Interpretação Bíblica, pag. 110-114