A orientação de Macedo para que o pastor só case com mulher da mesma raça: questões que merecem respostas.
Por Cristiano Santana
Seguindo seu costume de trazer ao público declarações no mínimo estranhas, o bispo Edir Macedo orientou , em artigo publicado na última semana, que homens de Deus devem evitar casar com mulheres mais velhas e de raças diferentes.
Na base da sua justificação está o tão conhecido pragmatismo. As decisões que o futuro pastor toma agora devem sempre ter em conta a perspectiva de uma vida ministerial de sucesso como pastor de igreja no exterior. Assim, o sentimento do homem por uma mulher é puramente secundário, insignificamente. O casamento deve acontecer somente se a futura esposa preencher certos requisitos de utilidade.
Deixando de lado a questão da idade da mulher, a orientação de casar com alguém da mesma raça levanta uma série de indagações, cujas respostas não podem ser claramente extraídas do texto. Meu trabalho aqui será levantá-las e respondê-las, se possível?
Qual é o critério que o futuro pastor utilizará para diferenciar a sua raça de outra?
Isso é difícil aqui no Brasil, em virtude do elevado grau de miscigenação. Há pessoas que não conseguem nem mesmo definir com precisão a sua raça, se é negro, se é mulato, se é branco, etc. Como poderão então reconhecer em uma mulher uma raça compatível com a sua? Todavia, esse não seria o maior problema. Às vezes, por causa da determinação de genes recessivos, acontece de um casal de certa cor gerar um filho com uma diferente. É que o patrimônio genético do genitor possui características ocultas de pele, cabelo, etc., as quais, dependendo da combinação genética com outro parceiro, podem se manifestar na próxima geração, Nada pode impedir, por exemplo, que um casal de missionários brasileiros "brancos" gere um filho moreno, durante o serviço na Noruega.
O bispo fala de discriminação em países onde a maioria é de brancos, de negros ou em ambos os casos?
Segundo Macedo, "não haveria nenhum problema para o homem de Deus se casar com uma mulher de raça diferente da dele, não fossem os problemas da discriminação que seus filhos poderão enfrentar nas sociedades racistas deste mundo louco." A pergunta que surge imediatamente é a seguinte: ele está falando do preconceito de brancos contra negros ou de negros contra brancos? Ou está falando do preconceito em qualquer direção?
Eu pessoalmente deduzo que ele faz referência ao perigo de pastores e filhos negros sofrerem discriminação em países cuja maioria é de pessoas brancas. Concluo isso por dois motivos:
Primeiro, se consultarmos a lista de pastores que atualmente estão liderando igrejas da IURD na África, constataremos que boa parte deles são brancos (veja a lista aqui). A foto de cada um deles poderá ser obtida através de pesquisas no Google. Não sabemos qual é raça das esposas desses pastores, mas é grande a probabilidade de boa parte delas diferirem de seus maridos nesse aspecto. Ora, não podemos ignorar que em certo grau os brancos sofrem algum tipo de discriminação em muitos países africanos, mas creio que essa discriminação não é suficientemente forte para que a direção da IURD impeça a ida de pastores brancos para esse continente.
Segundo, quando ele fala sobre as "sociedades racistas deste mundo louco", é inevitável concluir que ele está falando dos países desenvolvidos nos quais o preconceito xenófobo e racial impera fortemente. O preconceito que um negro sofre na Alemanha, com certeza não é tão forte quanto aquele que o branco sofre na África.
Se a minha resposta estiver certa, então seria correto que o bispo dissesse que apenas "pastores que forem para a África não devem se preocupar muito com a raça da sua esposa, apenas aqueles que forem enviados a países infestados por movimentos que alegam a supremacia da raça ariana.
Será que a IURD faz uma seleção racial antes de enviar um pastor ao exterior?
Eu não tenho dados para responder a essa pergunta, mas, pela lógica da orientação do bispo, a IURD deveria realizar essa seleção. Assim não se preocuparia com a possibilidade dos seus pastores serem alvos de discriminação no exterior.
É realmente necessário que todo pastor se case sempre pensando na possibilidade de ser enviado ao exterior?
A resposta é não. A demanda por pastores brasileiros no exterior não é tão grande como se imagina. Os próprios países que são evangelizados podem fornecer seu ministros. Ademais nada impede que um pastor se sinta plenamente satisfeito dedicando-se ao Senhor apenas no Brasil. Por que então transformar o casamento entre raças iguais numa espécie de imperativo profissional como se todo pastor estivesse destinado para realizar a obra no exterior? Devemos acreditar também que se Deus tem o propósito de enviar um pastor ao exterior, Ele o direcionará na escolha da mulher mais adequada para auxiliá-lo como esposa nessa missão, sem que haja necessariamente uma avaliação prévia da raça, idade ou posição social dela.
Concluindo, essa orientação do bispo Macedo levanta essas e outras questões, as quais, se não forem bem respondidas, podem levantar a suspeita de que a IURD promove algum tipo de segregação racial.
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